Recentemente conversei com um Gestor ambiental, especializado em Eco-turismo (profissional que faz capacitação de trilhas, analisando o impacto ambiental da presença humana nas reservas naturais) que me falou do problema das oferendas religiosas que são feitas nas matas:
“ - Você caminha por trilhas maravilhosas, em meio a uma natureza exuberante e de repente se depara com restos de uma oferenda, garrafas, copos plásticos, alguidares e velas rolando pelas trilhas, materiais que além de quebrar o delicado equilíbrio da natureza poluem e causam incêndios; as pessoas chegam até a abrir clareiras, cortando espécimes nativas para arrumar espaço para o ritual..."
Perguntou-me se tínhamos certeza de que os nossos Orixás ficavam felizes com este tipo de homenagem e concluiu:
“- É mais fácil conscientizar crianças do que religiosos adultos!"
Confesso que me senti constrangida e defendi a religião dizendo que não são apenas adeptos da Umbanda que fazem oferendas e que atualmente contamos com locais apropriados para este tipo de ritual com funcionários que fazem a manutenção do espaço e mantém a integridade da natureza. Porém senti nesse episódio que o assunto “oferendas” é um ponto delicado e polêmico da doutrina, que move a opinião pública contra a religião e impede que muitas pessoas se assumam como Umbandistas, temendo serem confundidos com “macumbeiros” que maculam espaços naturais e fazem rituais nas esquinas, deixando para trás um material que nunca é retirado.
Lembrei-me de uma vez, no Poço das Antas, em Mongaguá, que tivemos que tomar muito cuidado com uma infinidade de cacos de vidro, que poderiam ter causado sérios acidentes, de garrafas quebradas que faziam parte de oferendas feitas no local; ou ainda, no final do ano, quando descendo a Serra do Mar pela Rodovia Anchieta, no cruzamento entre as duas pistas, de subida e de descida, vi centenas de garrafas, de velas e de alguidares, restos de oferendas de pessoas que por ali passaram em excursões para trabalhos à beira mar, uma visão deprimente de desordem e sujeira que em nada lembravam algo de sublime ou religioso; e um trabalho deixado numa encruzilhada próxima a minha casa: alguidar, farofa, velas queimadas e uma garrafa de pinga cheia de papeizinhos... Oferenda que ali ficou por semanas e só foi vencida pelo tempo, pois nem o lixeiro e nem o dono da calçada tiveram coragem de mexer. Sempre que ia à padaria passava por ela e pensava como deve ser chato comprar uma casa na encruzilhada e receber grátis ebós arriados na calçada...
Olhando por esse lado, a questão das oferendas torna-se um problema. Vivemos num País abençoado, com liberdade de expressão religiosa garantida pela Constituição, marcado pela convivência pacífica entre todas as ideologias, um exemplo para o mundo... Mas se temos direitos também temos deveres de não ultrapassar os limites da liberdade constitucional dos outros. A Umbanda prega a simplicidade e o retorno à Natureza, tem como fundamento o culto aos Orixás e a prática de Oferendas como forma de reverenciá-los. Não podemos transformar reverência em desrespeito. O planeta pede socorro!
A doutrina deve conscientizar para a responsabilidade de defender e proteger a natureza e as leis do país. É chegada a hora de reavaliarmos as nossas práticas, não questionando o fundamento da oferenda mas o modo como ela é feita, talvez incluindo na obrigação de fazer, seja em pontos de força naturais ou urbanos, a obrigação de retirar os despojos do trabalho dando a eles um fim adequado; ou talvez criando ou freqüentando lugares próprios para os rituais com pessoal de manutenção e segurança onde poderemos calmamente reverenciar as Divindades. Dessa maneira estaremos respeitando o planeta, a natureza, os pontos de forças dos Orixás e os nossos concidadãos.
A Umbanda é uma religião ainda discriminada e marginalizada porque as pessoas desconhecem e confundem as suas práticas e fundamentos, cabe a nós, os adeptos, passá-la a limpo, defendê-la em sua essência e dar o exemplo de cidadania e respeito. Talvez assim com uma Umbanda Ecológica e coerente, nos próximos censos, ela seja assumida como uma das religiões mais fortes do País.
Por Rose Fernandes
“ - Você caminha por trilhas maravilhosas, em meio a uma natureza exuberante e de repente se depara com restos de uma oferenda, garrafas, copos plásticos, alguidares e velas rolando pelas trilhas, materiais que além de quebrar o delicado equilíbrio da natureza poluem e causam incêndios; as pessoas chegam até a abrir clareiras, cortando espécimes nativas para arrumar espaço para o ritual..."
Perguntou-me se tínhamos certeza de que os nossos Orixás ficavam felizes com este tipo de homenagem e concluiu:
“- É mais fácil conscientizar crianças do que religiosos adultos!"
Confesso que me senti constrangida e defendi a religião dizendo que não são apenas adeptos da Umbanda que fazem oferendas e que atualmente contamos com locais apropriados para este tipo de ritual com funcionários que fazem a manutenção do espaço e mantém a integridade da natureza. Porém senti nesse episódio que o assunto “oferendas” é um ponto delicado e polêmico da doutrina, que move a opinião pública contra a religião e impede que muitas pessoas se assumam como Umbandistas, temendo serem confundidos com “macumbeiros” que maculam espaços naturais e fazem rituais nas esquinas, deixando para trás um material que nunca é retirado.
Lembrei-me de uma vez, no Poço das Antas, em Mongaguá, que tivemos que tomar muito cuidado com uma infinidade de cacos de vidro, que poderiam ter causado sérios acidentes, de garrafas quebradas que faziam parte de oferendas feitas no local; ou ainda, no final do ano, quando descendo a Serra do Mar pela Rodovia Anchieta, no cruzamento entre as duas pistas, de subida e de descida, vi centenas de garrafas, de velas e de alguidares, restos de oferendas de pessoas que por ali passaram em excursões para trabalhos à beira mar, uma visão deprimente de desordem e sujeira que em nada lembravam algo de sublime ou religioso; e um trabalho deixado numa encruzilhada próxima a minha casa: alguidar, farofa, velas queimadas e uma garrafa de pinga cheia de papeizinhos... Oferenda que ali ficou por semanas e só foi vencida pelo tempo, pois nem o lixeiro e nem o dono da calçada tiveram coragem de mexer. Sempre que ia à padaria passava por ela e pensava como deve ser chato comprar uma casa na encruzilhada e receber grátis ebós arriados na calçada...
Olhando por esse lado, a questão das oferendas torna-se um problema. Vivemos num País abençoado, com liberdade de expressão religiosa garantida pela Constituição, marcado pela convivência pacífica entre todas as ideologias, um exemplo para o mundo... Mas se temos direitos também temos deveres de não ultrapassar os limites da liberdade constitucional dos outros. A Umbanda prega a simplicidade e o retorno à Natureza, tem como fundamento o culto aos Orixás e a prática de Oferendas como forma de reverenciá-los. Não podemos transformar reverência em desrespeito. O planeta pede socorro!
A doutrina deve conscientizar para a responsabilidade de defender e proteger a natureza e as leis do país. É chegada a hora de reavaliarmos as nossas práticas, não questionando o fundamento da oferenda mas o modo como ela é feita, talvez incluindo na obrigação de fazer, seja em pontos de força naturais ou urbanos, a obrigação de retirar os despojos do trabalho dando a eles um fim adequado; ou talvez criando ou freqüentando lugares próprios para os rituais com pessoal de manutenção e segurança onde poderemos calmamente reverenciar as Divindades. Dessa maneira estaremos respeitando o planeta, a natureza, os pontos de forças dos Orixás e os nossos concidadãos.
A Umbanda é uma religião ainda discriminada e marginalizada porque as pessoas desconhecem e confundem as suas práticas e fundamentos, cabe a nós, os adeptos, passá-la a limpo, defendê-la em sua essência e dar o exemplo de cidadania e respeito. Talvez assim com uma Umbanda Ecológica e coerente, nos próximos censos, ela seja assumida como uma das religiões mais fortes do País.
Por Rose Fernandes