Cigana Sara Menina.
Foi numa noite de luar que a vi,
noite bela de céu estrelado,
sem pensar parei perto de ti,
com sua dança me deixou encantado
Foi numa noite de luar que a vi,
noite bela de céu estrelado,
sem pensar parei perto de ti,
com sua dança me deixou encantado.
Menina Cigana ou Cigana Menina,
a ti peço para ler a minha mão,
ela a mim chegou e apenas sorria,
Cigana tão linda me dê proteção.
No Céu estrelado a Lua a Brilhar,
na minha mão a sua mão tão pequenina,
encanta com fascínio a quem dela se aproximar,
Bela Cigana linda rainha Sara Menina.
A linda Ciganinha Sara Menina, tem sua história encarnada em
várias regiões do Brasil., pois seu povo nômade por estar sempre a
viajar sem paradeiro, tinha a felicidade de conhecer várias e várias
regiões por todo o mundo.
Essa Ciganinha era muito sorridente, tinha o dom da quiromancia
(arte de ver o futuro das pessoas pelas linhas da palma da mão), tinha
o frescor das flores, a leveza dos ventos no qual fazia dessa Cigana
uma dançarina sem igual. De pouca idade e com uma face digna de uma
princesa, a Cigana Sara Menina chamava a atenção em todos lugares que
estava, e tanto Ciganos ou Gadjos ficavam encantados com tanta beleza
daquela Cigana de olhar infantil.
Logo que entrou na adolescência, a jovem Sara foi apresentada como
a mais nova futura noiva de algum Cigano, que deveriam ser levados
pelos pais até o pai da Ciganinha, a vontade de desposá-la, tendo que
para isso demonstrar as suas riquezas, pois aquele que mais tivesse
bens, seria o escolhido para ser o futuro noivo da menina.
Mas na mente da menina Sara, não era justo essa colocação sobre a
vida dela. Ela tinha sonhos, vários sonhos, e entre esses sonhos, o de
se casar por amor, o de poder escolher a pessoa que iria acompanhá-la
pelo resto da vida, fora que ela se achava extremamente nova na idade
para ter um compromisso desses.
Sara também tinha outros sonhos, o de ser tão respeitada como sua
Madrinha, uma Cigana de meia idade, que era a senhora das porções
mágicas, a que ajudava a todos, a que não era submetida as vontades
dos homens do clã, pois fazia o que desejava, na hora que desejava,
sem que o chefe de seu povo mostrasse insatisfação com isso.
Sara queria ser independente assim como sua madrinha, e dessa
madrinha que aprendeu muitas e muitas lições sobre o mundo oculto e
espiritual dos Ciganos. E com isso ela percebeu que poderia mudar seu
destino, não que não se orgulhasse de sua mãe e de todas as outras
Ciganas, que realizavam um trabalho constante e duro que era feito nos
acampamentos, mas ela achava que poderia fazer muito mais, poderia
fazer a diferença, poderia ajudar muito mais com sua benevolência,
sua magia, seu carinho e seu amor para com todos os semelhantes,
sendo Ciganos ou Gadjos.
Com acerto entre famílias, a Cigana Sara Menina teve seu
pretendente escolhido, era um jovem rapaz que tinha orgulho de seu
povo, e orgulho maior de suas tradições, entre elas a de fazer a
da esposa uma mulher submissa, que deveria seguir as ordens e a
vontade do marido, ser a guardiã dos filhos, e se submeter as ordens
não só do esposo mas também de toda a família dele.
O pai de Sara gostou do acordo feito e ordenou que o entrelace
deveria ser feito dentro de 3 meses, e que todos deveriam se preparar
para a festa, que duraria ao menos 3 dias.
Sara entristecida mas obediente aceitou sem mencionar a sua
verdadeira vontade, a vontade de ser livre, de ajudar a quem
necessitava, de fazer a caridade.
Tudo aquilo ligado ao seu povo era muito pequeno para os sonhos da
menina, mas ela acreditava que não teria como fugir de seu destino.
Certo dia Sara teve que ir ao encontro de uma velha Cigana, Cigana
essa que fazia as imantações, fazia os ensinamentos, fazia as regras
que uma jovem Cigana, que estava prometida em casamento a um Cigano,
deveria entender e fazer tudo conforme o ensinado e determinado.
Entre essas lições, ela tinha que aprender a abordagem a pessoas
dos arraiais próximos, para que assim fosse demonstrado seu dom de
quiromancia, vidência, mostrar que estava preparada a falar do
passado, presente e futuro de alguém, ao troco de algumas moedas, ou
joias, sendo esses rendimentos levado ao esposo, como forma de
gratidão por ele a tê-la desposado.
E assim foi feito pela menina Sara, sendo olhada de longe por sua
mestre de magias, ela se infiltrava no meio do povo, que demonstravam
um certo receio de chegar perto da pequena Cigana.
Nesse momento ela sente alguém segurar em seu braço. com um leve
sobressalto ela olha fixamente em direção a pessoa que ainda estava a
segurando.
Era um rapaz branco, de sorriso leve, olhos brilhantes, tinha suas
vestes surradas, e que logo foi lhe perguntando se ela poderia ver
seu futuro.
A menina com um olhar desconfiado, mas um tanto encantada com o
rapaz, respondeu que sim, poderia mas queria algumas moedas em troca.
Após o acordo feito ela pegando na mão do gadjo, começou a falar.
"Você é um moço guerreiro, vive para e pela caridade. Tem no
sangue a vontade de justiça, e está aqui de passagem. Terá muitos
inimigos, mas terá muitos que vão guardar seu nome, seu rosto, seu
carinho e sua caridade até os últimos dias de vida. Não terá ouro nem
prata, mas terá a benção do Pai Maior em sua evolução espiritual. Sua
vida parece não ser longa, assim como longa também não será a vida de
sua companheira de jornada. Vejo sangue, muito sangue em seu caminho.
Desamor, injustiça, morte. Vejo crianças mutiladas, grandes crateras
tomadas por corpos inertes. Vejo você chorando. Vejo você abraçado a
uma moça, seu rosto não aparece. Ela parece chorar. Dois grupos estão
tentando eliminar vocês. Estão abraçados. Gritos, armas de fogo, armas
brancas. Vocês..."
O rapaz atento pergunta: "Vocês?"
Ela entristecida cerra os olhos, se cala, e diz: "Acho que estou
enganada. Desculpe, tome de volta suas moedas." E sai em disparada,
sem que o gadjo consiga a alcançar no meio da multidão.
A menina Sara vai de encontro com sua mestre nas magias Ciganas,
em desespero pedindo para que voltassem ao acampamento. A mulher
Cigana a olha no fundo dos olhos e diz a pequena assustada que a vida
as vezes prega peças grandiosas, e que aquele momento tinha se criado
uma nova era para a pequena, daquele instante para frente muitas
coisas poderiam mudar, ela poderá conhecer novos horizontes e novos
caminhos, novas pessoas e novas caridades, novas alegrias e novas
tristezas, novos sentimentos, como o puro amor e a dor do ódio, poderá
entender e até ultrapassar a linha da vida com a da morte.
Dizendo isso a Cigana que era a dona das magias pega na mão da
menina e a leva a passos largos para o acampamento, pedindo a ela que
rezasse, orasse e clamasse a Santa Sara Kali por proteção e luz na
hora de sua caminhada de aventuras e de dor extrema.
A menina ainda sem entender muito bem todas aquelas palavras da
velha Cigana, fez o que lhe foi mandado. Contudo uma coisa ainda a
perturbava a mente entre uma oração e outra. E era a imagem do jovem
gadjo, a imagem de seu sorriso, a imagem de seu olhar.
Sete dias se passaram, e numa tarde de primavera, Sol em alta, céu
azul cintilante, a jovem Sara foi aos pés da cachoeira se banhar, e no
caminho se depara com o gadjo, que tanto lhe chamou atenção.
Ela se afasta um pouco das outras Ciganas, e por entre as árvores
para diante do rapaz.
Após um pequeno diálogo, ela sente-se eufórica, feliz como nunca
havia se sentido antes. Sabia que era um sentimento que jamais
sentira, e sabia que era algo relacionado com a presença do gadjo.
A partir desse dia os encontros se tornaram frequentes, dia após
dia a menina Sara conseguia escapar das vistas das Ciganas, do
acampamento e das correntes de seu clã para ir ao encontro do jovem
rapaz.
Muitas eram as conversas, muitas eram as aventuras contadas pelo
rapaz. Ele era uma pessoa caridosa, tinha nas veias o sangue de um
guerreiro, que se importava com tudo e todos. E foi numa dessas
conversas que o jovem conto a menina sobre seu trabalho árduo de
libertar, acalentar, cuidar, proteger crianças órfãs judias e nômades,
que eram caçadas pelos atrozes homens da guerra.
Sara se encantou com tudo isso, e decidiu que esse era o caminho
para demonstrar sua caridade. Desejava fortemente fazer parte desse
trabalho. Decidiu abandonar seu clã, suas tradições, seu pretendente,
sua vida cigana. Sentia no coração a chama da caridade. Seus olhos
brilhavam, seu coração pulsava rapidamente.
Após uma longa conversa, os dois decidiram, partir para longe do
clã, em busca de auxiliar essas crianças. E assim foi feito.
Durante algum tempo resgataram as crianças órfãs, levando-as para
esconderijos, dando-lhes alimentos, medicamentos, proteção e amor.
Sara e o jovem gadjo, apaixonados, faziam juras de amor entre si.
E juntos planejavam novos resgates de crianças em campos de
extermínio, que eram usados pelos homens da guerra para assassinar
esses seres inocentes.
Soldados nazistas que espalhavam um ódio sem limites, começaram a
perseguir o jovem casal, principalmente após saberem que era uma
Cigana que estava indo contra as ordens sangrentas dadas pelo primeiro
escalão da guerra.
Muitas perseguições passaram a acontecer sobre o casal. Sara que
tinha a vidência Cigana, conseguia analisar e escapar de tantas e
tantas emboscadas. Mas com a mente voltada para tantas e tantas
covardias feitas pelos soldados nazistas, Sara se fixou somente a
esses atrozes, esquecendo-se de seu antigo prometido a entrelace.
O jovem Cigano que antes tinha a menina Sara como prometida, não
poderia aceitar, pelas suas tradições, que sua futura esposa o
deixasse, que ela descumprisse o acordo firmado entre as famílias, que
ela fugisse do acampamento sem dizer nada. Ele estava desonrado, e só
teria um modo de voltar a ser respeitado dentro do clã. A morte de
Sara.
Ele partiu em busca de limpar sua honra, principalmente após
descobrirem que a jovem tinha fugido com um gadjo. Ambos deveriam
morrer.
Meses e meses se passaram, a guerra continuava, milhares de
crianças judias e nômades foram salvas pelas mãos do jovem casal. E o
Cigano que buscava pela justiça não desistia de encontrar a menina
Sara e seu amor proibido.
Até que certo dia, em uma das milhares de fugas, Sara e o jovem
gadjo se encontraram encurralados pelos soldados do mal. Em uma
pequena clareira cercados por uma dezena deles, o casal não sabia o
que fazer. Vendo o ódio nos olhos dos soldados, Sara se lembrara das
palavras da velha Cigana no dia em que encontrou o jovem gadjo pela
primeira vez, lembrando-se também das suas próprias palavras ao ler as
linhas da mão do jovem que lhe trouxe tantos sentimentos lindos.
Ela sente lágrimas rolarem em seus olhos. Sabia que o fim estava
próximo. Sabia que era o momento de se separar de seu amor, o momento
de não mais poder fazer a caridade para aquelas tão sofridas crianças.
Lembrou que ela mesma ainda era uma criança,.
Olhou para o rosto sofrido de seu amado, escutou um estampido de
arma de fogo, viu o sangue do gadjo nascer do seu peito, viu o ultimo
sorriso tímido do rapaz para ela, viu seu corpo caindo inerte ao chão,
viu a morte chegando e levando a alma límpida do rapaz.
Em sua volta soldados de armas em punho, gargalhavam a morte do
rapaz. Ela cai de joelhos, e no seu silêncio mental e entimo clama
por sua Amada Santa de devoção, a linda Santa Sara Kali, pedindo-lhe
que acolha o espírito de seu amado, que a proteja, e que sua dor dessa
perda sendo maior que a dor de seu próprio desencarne, ela pede
humildemente que a morte também a levasse, pois acreditaria que
nunca sentiria uma dor tão grande, como a dor de ver aquele jovem
rapaz com seu corpo ao chão banhado de sangue, o sangue do heroísmo e
da coragem de lutar em favor da caridade feita as pobres crianças
órfãs. As crianças que também deveriam ser eliminadas pelo terror da
guerra, se esse jovem gadjo não tivesse entregue sua própria vida para
tentar salvar, uma a uma desses pequenos seres que estavam morrendo,
sem ao menos entender o porque.
A pequena Sara de cabeça baixa em suas orações, por um instante
ergue os olhos já esperando pela sua morte pelas mãos dos sangrentos
soldados, que já se preparavam para atacar a jovem, quando sem que
esperassem foram atacados por um grandioso grupo de Ciganos,
liderados pelo jovem Cigano que um dia a menina Sara fora prometida
por seu pai.
Nesse ataque inesperado, muitos soldados desencarnaram, assim como
alguns Ciganos, mas como o número de Ciganos era maior, os soldados
nazistas bateram em retirada, tentando salvar a própria vida.
O jovem Cigano chegando ao encontro de Sara, ergue-lhe as mãos
para auxiliar que ela se levantasse do chão empoeirado e com sangue a
todos os lados.
Sara se encontrava ilesa, apesar da grande luta entre Ciganos e
Soldados, mesmo ela ao centro de todo acontecimento, ela não tinha
nenhum ferimento aparente, a não ser de seu coração dilacerado pela
perda de seu jovem gadjo.
Os Ciganos rapidamente saíram do local em questão, pois era certo
que soldados retornariam para uma vingança sobre os seus atrozes
atacantes. Sara fora levada junto, mesmo desejando ficar, pois o corpo
de seu amado ainda se encontrava no local, que nesse momento estava
rodeado por curiosos e alguns aproveitadores, tentando pegar algo de
valor nos bolsos do jovem falecido, sem o menor constrangimento e o
menor respeito.
Sara ao ver o que se passava, tentou se livrar das mãos dos
Ciganos que a puxavam fortemente para que ela acompanhasse o grupo. O
jovem Cigano, sem esboçar um só gesto facial, continuava seguindo a
frente de seu grupo, como que se as ações da menina Sara não lhe
chamasse atenção.
Sara partiu chorando copiosamente, presa nas mãos de outros
Ciganos, como uma verdadeira prisioneira. E assim partiram em direção
do acampamento de seu povo.
Ao chegar ao acampamento, o Cigano na qual a menina Sara era
prometida, manda reunir todos os clãs, que ali se encontravam para os
festejos do casamento de ambos.
Os Ciganos se reuniram na clareira, onde estava uma grande
fogueira acesa, que na tradição daquele povo, era para iluminar o
futuro casal, para terem fartura, saúde e tudo mais que um jovem
casal Cigano buscava ao se entrelaçar matrimonialmente.
Os pais e todos os familiares da menina Sara se encontravam em um
único canto do acampamento. Eles, ainda desonrados pela fuga de Sara
com um gadjo, não compreendiam o aceite do jovem Cigano, que mesmo
após a desonra, ainda fora buscar sua ex pretendida, e fazia todas as
honras que uma jovem Cigana receberia no dia de seu matrimônio.
Mas algo estava incomodando, não só a Sara, mas a todos do
acampamento. O jovem noivo, diferentemente de outros Ciganos que
sorriam, dançavam, cantavam as músicas lindas ciganas, bebiam
festejando os noivos, ele apenas fixava seu olhar a Sara, sem dizer
uma palavra, sem esboçar um sorriso, demonstrando em seu olhar um ódio
grandioso por tudo que tinha ocorrido.
Sara por sua vez, sem receio fixou o olhar nos olhos do rapaz, e
pausadamente diz com a voz um pouco rouca, ainda abafada pelo choro e
pela dor de perder seu amor.
"Sei que seu ódio é maior que seu amor. Sei que toda essa festa é
para você demonstrar seu poder, e o poder de sua família diante de
nosso povo. Sei que essa noite irei ao encontro de meu amado. E sei
que esse amado não é você. Se você acha que me tirando a vida estará
me fazendo mal, está enganado, pois você não pode me tirar algo que já
não tenho mais. Minha vida se foi juntamente com a vida de meu herói,
herói que deu sua própria vida pela vida de crianças que ele nem
conhecia, coisa que você nunca faria. Pois você pode se considerar um
guerreiro Cigano, mas nunca chegará a ser um herói, pois só busca a
guerra, e a guerra apenas de seus interesses. Você nunca será um
herói, apenas um Cigano desonrado. Sei que vai me matar, não sei
quando, mas sei que vai. Vejo sangue, vejo ódio, vejo sua falsidade em
seus olhos. Mas estou em paz, pois vejo minha Santa Sara me
protegendo, me levando, me mostrando um caminho para que continue
minha caridade a meus semelhantes, coisa que seu egoísmo nunca o
deixará fazer."
Ouvindo essas palavras o Cigano jovem, se levanta, vai até o
centro do acampamento, chama a atenção de todos, a música para, o povo
se silencia, a família de Sara se aproxima a pedido do rapaz.
Ele com um tom de voz firme, mas um tanto irônico, começa seus
dizeres, que após alguns dias de buscas, cá estava ele pronto para seu
casamento com a jovem prometida. Pede para dois Ciganos trazerem a
menina Sara, que chega até junto do rapaz. Ele com os olhos vermelhos
de ódio, esboça um leve sorriso, dizendo: "Você Sara, está prometida a
mim, seu pai fez o acerto com o meu, não tem como fugir de seu
destino. Esteve distante por algum tempo, mas agora está aqui. Você é
minha, e eu determino o que será de seu futuro."
Sara com um olhar serio mas sereno diz ao Cigano: "Meu destino
está nas suas mãos. Minha vida lhe pertence até o brilhar de sua
adaga pelo clarão da Lua e de sua covardia. Estou em suas mãos aqui,
mas logo estarei nas mãos e na proteção de Sara Kali, onde poderei
voltar a ser feliz fazendo o bem e sem precisar me esconder dos homens
da guerra e Ciganos do mal."
O Cigano fecha o semblante, retira de seu bolso um anel de ouro,
tendo esse anel um detalhe de estar quebrado, que dentro das tradições
e crenças ciganas significa que o compromisso não existe mais. Mas
mesmo assim ele o coloca no dedo de Sara, enquanto todo povo não
compreende as verdadeiras intenções do Cigano.
Ele abre um sorriso irônico, abraça a menina Sara, e nesse abraço
tira sua adaga da cintura e crava nas costas da Cigana sob o olhar
atônito de todos que ali se encontravam para acompanhar o casamento.
Ele ainda abraçado ao corpo de Sara, diz em seu ouvido: "Esse é
meu presente para você, a minha prometida, estou livrando a ti de
passar o resto de sua vida com um homem que você não ama, que você não
admira, que você não vê como um herói. Meu presente para você é a
morte"
Sara, sentindo seu sangue ser perdido, as forças sendo
exterminadas, a dor que percorria todo corpo, sussurra baixinho a seu
atroz assassino dizendo: "Agradeço seu presente, perdi a vida, mas
ganhei a luz em poder evoluir ajudando a quem necessita, ganhei a
felicidade de poder estar junto com minha amada Santa Sara, ganhei a
benção de poder tirar essa dor de não estar com quem realmente me
mostrou a verdadeira caridade, ganhei a liberdade de poder caminhar
sem ser escrava de um Cigano covarde que não sabe o significado da
palavra amor. Só posso dizer-te, muito obrigado."
Ele retira a adaga das costas de Sara, e ela cai ao chão, inerte,
mas com um semblante calmo e sereno. Ele olha suas próprias mãos com o
sangue da jovem, se desespera, grita, se joga ao chão, abraça o corpo
da menina sem vida, e vendo que ela não responde seus apelos, se
levanta em um desespero extremo, vai para o centro da fogueira, salta
para dentro das chamas ardentes, e com a adaga na mão a insere em seu
próprio peito já em chamas.
Seu corpo queimado desaparece em meio das chamas. Ciganos e
Ciganas sem saber o que fazer, apenas olham com um olhar atônito, os
familiares gritam pelo seu nome, mas o rapaz nesse momento já se
encontrava morto.
A noite com o clarão da Lua, fica mais clara com um grande feixe
de luz, que saia das estrelas vindo ao encontro com o corpo da menina
Sara. Desse feixe os Ciganos boquiabertos, viram a imagem da Santa
padroeira daquele povo, e claro da jovem menina, essa imagem desce
até o local que Sara se encontrava, e diante de todos, a imagem de
Santa Sara Kali retorna levando pelas mãos o espírito da menina Sara,
uma espírito iluminado, que demonstrava sorrir, roupas claras, e em
sua mão esquerda o anel de ouro partido.
O feixe de luz foi se desaparecendo, enquanto muitos Ciganos
caíam de joelhos em orações, outros choravam a partida da menina, e
outros rogavam proteção.
Sara Menina a partir desse dia foi conduzida ao reino de Entidades
de Luz, e hoje trabalha em prol da caridade em terreiros de Umbanda,
trazendo ensinamentos, pedindo proteção as crianças, mostrando os
males da guerra, os males do ódio, os males que todos seres humanos
buscam com seus sentimentos mesquinhos e intolerantes, sendo esses
seres humanos de todas as raças, etnias, posição social, modo de
pensar, seja eles Ciganos ou Gadjos.
Que a Cigana Sara Menina nos proteja, nos guarde e nos mostre como
podemos evoluir para um caminho de luz que nos leve aos braços do Pai
Maior.
Saravá a Cigana Sara Menina!
Opchá Povo Cigano!
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