quarta-feira, 24 de junho de 2015

Agradecimento

Vagarosamente anda em direção ao mar. Sente a areia molhada afundar sob a pressão de seus passos. A primeira onda, fria, envolve seus pés e arrepia seu corpo inteiro. Não saberia explicar e emoção que a invade enquanto avança . A cada onda que chega, respeitosamente baixa a mão, sente a água e levanta os dedos que fazem o sinal da cruz. Rosana vê a imensidão azul a sua frente através dos olhos marejados. Nunca havia pensado que seria tão grandioso o momento daquela entrega. Tudo havia começado há alguns meses atrás, mais exatamente, onze meses. Chegara ao terreiro de Dona Alzira completamente sem rumo. Depois de passar por uma gravidez cheia de problemas sua filha Sabrina nascera de apenas cinco meses de gestação, estava na incubadora há mais de dois meses e os médicos não lhe davam esperança alguma de vida. Cada vez que visitava o bebê saia mais depressiva. A imagem não era nada agradável e tudo levava a crer que era uma questão de horas apenas. Aconselhada por uma vizinha chegou ao terreiro em um dia de consulta com os preto-velhos. Rosana sempre foi católica, não de ir á missa todo domingo, mas orgulhava-se de estar na igreja pelo menos uma vez no mês, coisa que a grande maioria das pessoas não fazia, mesmo dizendo-se católicos natos. Alzira estava incorporada com Vovò Catarina que a atendeu com carinho e gentileza. Rosana chorou muito, parecia estar em contato com sua avó que falecera há muitos anos e ela nem chegara a conhecer. A preta-velha levou-a até a imagem de Iemanjá e disse : - Fia conte tudo prela. A grande mãe vai te ajudar! Naquele momento, um turbilhão de emoções tomou conta de Rosana e ela aos prantos pediu: - Minha mãe, tire meu bebê do hospital, faça com que ela se salve e eu prometo que levarei um lindo presente para ti! A velha que tudo ouvia falou sabiamente: - Num é perciso oferecer nada fia! Basta fé e confiança. Ela vai te ajudar! Rosana saiu de lá revigorada, parecia que achara o caminho. E foi exatamente o que aconteceu. Uma semana depois o médico responsável chamou-a: - Mãe, sua filha teve uma recuperação milagrosa já podemos mandá-la para casa! Por isso estava alí, na praia, andando em direção ao mar... As lágrimas já não se insinuavam, corriam livremente. Rosana levou as mãos ao pescoço e tirou uma linda corrente de ouro com um pingente de esmeralda que havia ganhado de seu marido. - Mãe Iemanjá, sagrada senhora! Sei que nada quer de mim, mas além do agradecimento que aquece meu coração, desejo que fique com esse mimo. Jogou a corrente na sétima onda que passava por ela nesse instante. Conforme recomendado deu sete passos para trás e virou-se para a praia. Ao longe avistou a querida Vó Catarina com sua pequena Sabrina nos braços. Nesse pequeno instante a felicidade estava em suas mãos...
Luiz Carlos Pereira