quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Parábola de Jesus no terreiro


jesus

Estava começando a escurecer, quando Jesus chegou num terreiro. O pessoal que entrava, o saudava e dizia:
“Boa Noite, Jesus! Entre e participe com a gente!”
Jesus entrou. Viu o povo reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam.
Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fosse um irmão e amigo de longa data. Gostou de ser acolhido assim. Viu também como a Mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados.
 
Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse:
“A paz esteja com você, Jesus!”
Jesus respondeu:
“Com a senhora também!”
E acrescentou: “Posso fazer uma pergunta?”
E ela disse: “Pois não, Jesus!”
E ele: “Como é que a senhora me conhece? Como é que o pessoal sabe o meu nome?”
E ela falou: “Mas Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa no meio de nós!”
Jesus olhou para ela e disse: “Muito obrigado!”
E continuou: “Mãe, estou gostando! O Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!”
Ela olhou para ele e disse: “Muito obrigado, Jesus!
Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!”
E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho:
“Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro.
Sim, Pai, assim foi do teu agrado!”.
Dançou um tempão. No fim, comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele.
E dentro dele, o coração repetia sem cessar:
“Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!”