domingo, 2 de fevereiro de 2014

Meu milagre

Comecei a sentir fortes dores abdominais, e depois de quatro idas ao pronto socorro, o medico decidiu fazer uma tomografia e descobriu algo errado no meu intestino, fiquei internada para fazer colonoscopia e o tumor foi confirmado.
O medico entrou no meu quarto para dar a noticia e a expressão dele não era nada animadora: me olhava como medico olha quando tem que dar péssimas noticias a um paciente.
Ainda tinha que esperar o resultado da biopsia, mas de qualquer forma, sendo benigno ou maligno, eu teria que operar.
Cheguei em casa com os exames e fiz a primeira coisa que achei sensata: olhei no Google o significado dos termos que apareciam no meu exame.
O resultado foi ainda mais desanimador que a expressão de pesar do medico: tudo ali indicava que eu tinha sim um câncer.
Me apavorei, na verdade, acho que nem existe palavra capaz de expressar o medo que senti naqueles primeiros dias.
Uma pessoa que indicou ir tomar passe de cura num centro de umbanda que ela conhecia. E lá fui eu, parte me agarrando com todas as forças na cura pelo passe, parte cética, indo só para dizer depois que eu não tentei.
Cheguei no terreiro e contei minha historia. A mãe de santo que me atendeu me acolheu num carinho tão sincero e lindo que me senti confortada na mesma hora. Ela me contou sua historia pessoal com a doença, segurou minha mão e me confortou, me fez sentir a vontade. O pai de santo que aplicava os passes foi igualmente carinhoso e atencioso comigo. Me contou que havia passado por um procedimento muito parecido com o meu, me tranquilizou, me levou no roncó e perguntou se eu sabia rezar. Disse a ele que só sabia rezar o pai nosso e ave Maria. E ele disse para eu ir rezando enquanto ele aplicava os passes. E eu rezei junto com ele, e pedi, com todas as forças do meu coração, para que aquele tumor fosse benigno e que tudo não passasse de um susto.
Ele me recomendou que eu deveria tomar sete passes, sete semanas seguidas. Eu não estava nenhum pouco disposta a esperar sete semanas para fazer a cirurgia e tirar aquele tumor de dentro de mim.
Não disse nada, mas minha intenção era que o medico marcasse a cirurgia o mais rápido possível.
Mas o mundo espiritual tinha outros planos para mim, porque o medico não poderia me operar antes de sete semanas, uma vez que ele ia num congresso em Nova York. Querendo ou não eu teria que esperar então, continuei indo ao terreiro.
Não era nenhum sacrifício. Eu estava me afeiçoando muito à mãe de santo, que cuidava de mim com carinho de mãe, eu brincava dizendo que ela havia me adotado e estava amando a atenção que ela tinha comigo. Fomos ficando amigas e mais próximas, ela me ensinava sobre a doutrina umbandista, eu recebia os passes, e depois dos passes, eu me sentia como se nada no mundo pudesse me acontecer de ruim. Me sentia imortal, invencível! A sensação era muito boa, comecei a ansiar pelas quintas feiras só para conversar com a mãe de santo e receber esses passes tão gostosos.
Nesse meio tempo, recebi o resultado da biopsia e deu benigno. O alivio que eu senti foi tanto que eu saí cantando e pulando no trabalho, no meio do expediente.
Meu amigos me aconselhavam a não ouvir uma única opinião medica, disseram que eu deveria procurar mais um especialista, e até me indicaram um medico muito conceituado na área, daqueles que dão entrevistas na televisão e tudo mais.
Consegui um encaixe de emergência na clinica do especialista. Entrei em seu consultório, ele era um doce, todo sorrisos e atenção. Expliquei tudo e, enquanto ele olhava meus exames, sua expressão ia mudando. O sorriso desapareceu e sua expressão ficou igualzinha do primeiro medico que me ia me operar. Aquele olhar que mostra os meses e meses de quimioterapia, radioterapia e cabelos caindo. Ele me explicou tudo bem direitinho e recomendou sim a cirurgia. Disse que independente de ter dado negativo na biopsia inicial, ainda tinha que olhar a peça inteira para saber se ela era realmente toda benigna, porque ela era muito grande e só haviam analisado um pedacinho de nada.
Saí do consultório bem desanimada, mas ao menos segura que o primeiro medico havia acertado o diagnostico.
No terreiro, alem dos passes de cura às quintas feiras, comecei também a ir na gira aos sábados, para falar com a cabocla e a preta velha da mãe de santo que eu me afeiçoara. Ela fazia mil mandingas para mim, me passava banhos, velas para acender em casa, e me enchia de carinho, conforto e atenção. A preta velha disse que estaria comigo lá na hora da cirurgia e todas essas coisas aliadas me enchiam de fé, que tudo ia dar certo, que o tumor era mesmo benigno e que eu estaria rindo disso tudo, dali uns meses.
Já havia tomado cinco passes de cura quando eles decidiram mudar os passes de quinta-feira para terça feira. Às terças eu não poderia ir, porque fazia terapia nesse dia. Expliquei tudo a eles e agradeci, dizendo que naquela terça não iria, mas daria um jeito de tentar mudar a terapia, para ir no ultimo. Parece que, mais uma vez, o espiritual tinha outros planos, porque na terça feira, recebi um torpedo da minha terapeuta, pedindo para mudar nossos encontros para as quintas, porque ela teve um problema inesperado no hospital onde trabalha.
Consegui receber os sete passes, conforme me foi passado, consegui falar com a preta velha na ultima gira antes da cirurgia.
O pai da casa me disse, na ultima semana antes da cirurgia, que poucas pessoas tinham o privilegio de ir para uma mesa de cirurgia tão bem acompanhada como eu iria. Na hora eu não percebi o alcance de suas palavras, só entendi agora, enquanto escrevo esse relato.
Fiz a cirurgia, que foi muito bem. O medico, antes com cara de funeral, depois da cirurgia veio me ver todo animado e disse que quando tirou o tumor e deu uma boa olhada nele, achou que ele tinha a maior carinha de benigno, e que o resultado da biopsia sairia no final da semana.
Minha recuperação foi fácil e tranquila e dali quinze dias já estava na ativa, mais dois meses, já estava fazendo minhas atividades normais, inclusive correndo, que eu adoro.
Continuei indo no terreiro para tomar passes, conversar com a mãe de Santo que eu já amava como se fosse minha mãe e aprendendo mais sobre a doutrina umbandista. Comecei a me sentir em casa quando ia lá, fui ficando e ficando até entrar de vez para o desenvolvimento.
Seis meses se passaram desde a cirurgia e era época de refazer a colonoscopia para confirmar que tudo estava bem. Para fazer novo exame, me recomendaram levar exames anteriores e foi o que eu fiz. Quando o medico olhou meu exame anterior, ficou surpreso. Perguntou como havia sido a cirurgia, se tinham feito biopsia na peça inteira, expliquei que sim e que tinha confirmado que era benigno. Ele disse: ainda bem, porque olhando essas imagens, esse tumor tem a maior cara de ser maligno.
Sexta feira peguei o resultado do novo exame e estava tudo bem, sem tumores, sem sequelas.
E depois de fazer uma retrospectiva de tudo que aconteceu nesses últimos seis meses, só então eu percebi que a mãe e o pai de santo, suas entidades, mandingas e rezas, haviam salvo minha vida!
Está mais do que claro para mim que o meu quadro de câncer foi regredido. Que o espiritual me ajudou e me curou. E está claro para mim que a umbanda é o meu lugar.
Também me ocorreu que eu nunca havia agradecido da forma correta.
Eu quero um dia, através de minhas entidades, ter a oportunidade de curar alguém e retribuir toda a graça que me foi concedida.
Foi por isso que eu quis entrar pro desenvolvimento e é esse o caminho que eu quero trilhar.