EXU SETE COVAS: A HISTÓRIA DO GUERREIRO QUE SE TORNOU PORTA-VOZ DAS ALMAS
Por uma alma que nunca esqueceu o que é ser humano.
EXU SETE COVAS: A HISTÓRIA DO GUERREIRO QUE SE TORNOU PORTA-VOZ DAS ALMAS
Por uma alma que nunca esqueceu o que é ser humano.
1. A Vida Antes da Lenda
Num vilarejo esquecido nos confins do interior do Brasil, entre os séculos XIX e XX, nasceu Lázaro dos Anjos—um menino de olhos profundos como a noite e voz suave como o sussurro do vento entre as árvores. Seus pais, Manuel dos Anjos, um ex-escravo liberto que trabalhava como ferreiro, e Izaura das Dores, parteira e curandeira respeitada na região, criaram Lázaro com mãos calejadas, mas corações imensos. Desde cedo, ele sentia o peso das sombras: via espíritos vagando ao entardecer, ouvia vozes nos rios e sabia, com certeza inabalável, que a morte não era fim—apenas uma curva na estrada.
Lázaro cresceu entre rezas católicas, velas apagadas ao vento e os segredos ancestrais que sua mãe sussurrava sob a lua cheia. Aos 14 anos, já ajudava os vivos e os mortos: acendia vela para alma penada, deixava água limpa na encruzilhada, enterrava moedas sob a figueira para acalmar os que não tinham túmulo. Mas o que mais marcava seu coração era seu amor secreto: Clara, a menina dos olhos cor de mel e riso que parecia canção de viola. Filha de um fazendeiro rico que desprezava “pobres e supersticiosos”, Clara e Lázaro se encontravam às escondidas, nas margens do rio Negro, prometendo um ao outro um futuro que o mundo não permitiria.
2. O Amor Proibido e a Traição
Com o tempo, a paixão entre Lázaro e Clara se tornou insustentável. Quando o pai dela descobriu, mandou que seus capangas o expulsassem da cidade. Lázaro, porém, não se curvou. Voltou na calada da noite, não para brigar, mas para pedir a mão de Clara em casamento. O que encontrou foi traição: Clara, pressionada pela família e pela fome de estabilidade, aceitara se casar com o filho do coronel da região.
Desolado, Lázaro não amaldiçoou ninguém. Chorou. E partiu.
Foi viver entre os cemitérios, os becos, os caminhos cruzados. Tornou-se coveiro em uma cidade pequena—não por necessidade, mas por vocação. Achava que, se não podia proteger os vivos, ao menos daria descanso aos mortos. Enterrava pobres sem nome, rezava pelos suicidas, limpava sepulturas esquecidas. Os moradores o temiam, mas os espíritos o respeitavam. Chamavam-no de “O Guardião das Sete Covas”, pois diziam que, em uma única noite de temporal, enterrou sete almas—todas abandonadas.
3. A Morte que Não Acabou
Lázaro morreu aos 33 anos. Não por doença, nem por velhice. Foi assassinado.
Na noite anterior ao Dia de Finados, enquanto limpava as lápides do cemitério municipal, encontrou um corpo jogado na vala comum—um jovem escravo fugitivo, morto a pauladas. Revoltado, Lázaro decidiu enterrá-lo com dignidade, mesmo sabendo que isso significaria enfrentar os senhores da região. Fez uma cruz de madeira, cavou a terra com as próprias mãos e cantou um ponto de alma que sua mãe lhe ensinara.
Mas os capangas estavam observando.
Quando Lázaro se ajoelhou para rezar, foi surpreendido por facas e correntes. Morreu cravado ao chão, com o nome de Clara nos lábios e os olhos fixos na lua. Seu corpo foi jogado em uma cova rasa—sem nome, sem cruz, sem oração. Apenas poeira e esquecimento.
Mas os Orixás não esquecem quem honra os mortos.
4. A Ascensão de Exu Sete Covas
Na encruzilhada entre os planos, onde a terra beija o céu e os vivos dialogam com os ancestrais, Oxalá viu a alma de Lázaro. E, tocado por sua compaixão, chamou Ogum, o guerreiro, e Omolu, senhor das pestes e da cura espiritual. Juntos, decidiram que Lázaro não merecia o esquecimento—merecia ser guardião eterno.
Assim nasceu Exu Sete Covas—não como demônio, nem como sombra do mal, mas como mensageiro das almas esquecidas, protetor dos marginalizados, abridor de caminhos para quem já não tem porta. Ele não serve ao caos, mas à justiça ancestral. Sua força vem do amor não correspondido, da dor não chorada, da dignidade negada. Por isso, é um dos Exus mais humanos—e mais poderosos.
Linha de Trabalho: Exu Sete Covas atua na Linha das Almas, também chamada de Linha do Cativeiro ou Linha do Cruzeiro. Ele é comandado diretamente por Omolu (ou Obaluaiê, dependendo da nação), o Orixá das doenças, da transformação e das almas em purgação. É irmão espiritual de Exu Rei das Almas, Exu Marabô e outras entidades ligadas ao mundo dos mortos e à justiça kármica.
5. Como Montar o Altar de Exu Sete Covas
O altar de Exu Sete Covas deve ser simples, respeitoso e conectado à terra. Ele não gosta de ostentação, mas de verdade.
Local:
- Prefira um local no chão, próximo a uma parede externa da casa ou em um canto protegido do quintal.
- Nunca coloque seu ponto riscado ou seus elementos dentro de casa, a menos que seja em terreiro consagrado.
Itens Básicos:
- Ponto riscado: um círculo com sete cruzes ao redor (representando as sete covas).
- Velas: pretas, vermelhas ou roxas—acendidas sempre às quartas ou sextas-feiras, após o pôr do sol.
- Taça de barro com água mineral (trocada semanalmente).
- Moedas antigas ou réplicas (simbolizam o pagamento justo às almas).
- Fumo de rolo ou charuto (nunca cigarro industrializado).
- Comida: canjica preta com melado, milho cozido com pimenta, quiabo cru.
Proibições:
- Não use perfumes artificiais, plásticos ou objetos de metal cromado.
- Nunca peça maldades ou vingança. Exu Sete Covas age com justiça, não com crueldade.
6. Oferendas para Situações Específicas
1. Para abrir caminhos bloqueados:
- Ofereça 7 espigas de milho cru, 1 vela preta e 1 copo de cachaça envelhecida na encruzilhada. Reze:
“Exu Sete Covas, tu que abriste a terra para os esquecidos, abre meu caminho com justiça e luz. Que minha dor vire força, meu luto vire sabedoria.”
2. Para justiça em processos ou conflitos:
- Separe 7 moedas, 1 vela roxa e um pedaço de pano preto. Enterre tudo sob uma árvore antiga (como a figueira) dizendo:
“Sete Covas, juiz das almas, meu caso está em tuas mãos. Que a verdade seja feita, nem menos, nem mais.”
3. Para alívio de dores espirituais ou obsessões:
- Prepare canjica preta com 7 grãos de pimenta. Ofereça ao Exu ao lado de uma vela vermelha. Peça que ele leve as almas perturbadoras para o descanso.
7. Magias Simples com Exu Sete Covas
⚠️ Importante: Toda magia deve ser feita com ética, respeito e consciência. Exu não é servo—é aliado espiritual.
Magia da Verdade Escondida:
Escreva a pergunta em um papel com tinta vermelha. Dobre com 7 dobras. Queime com uma vela preta e espalhe as cinzas em um rio, pedindo a Exu Sete Covas que revele o que está oculto “para o bem de todos os envolvidos”.
Magia da Proteção Noturna:
Coloque 7 pedrinhas pretas em um saquinho de pano roxo. Carregue com você ou deixe sob o travesseiro. Antes de dormir, diga:
“Sete Covas, tu que guardaste os mortos, guarda meu sono. Nada de mal passará por mim enquanto tua sombra me cobre.”
8. Conclusão: O Legado de Lázaro
Exu Sete Covas não é apenas uma entidade de poder—é a memória viva de todos que amaram demais, sofreram em silêncio e foram enterrados sem que ninguém chorasse. Ele é o guerreiro que escolheu honrar os esquecidos, mesmo quando o mundo o esqueceu.
Quando você acende uma vela para ele, não está pedindo favores—está reconhecendo que a dor também é sagrada. E que, nas profundezas da escuridão, há sempre um guardião disposto a caminhar com você.
🔗 Saiba mais e participe da roda de conversa espiritual:
https://web.facebook.com/share/g/1CVKjC4Ktw/
#ExuSeteCovas #QuimbandaSagrada #PovoDasAlmas #ExuReiDasAlmas #MagiaAncestral #EspiritualidadeAfroBrasileira #AlmasEsquecidas #ExuJusto #Omolu #Encruzilhada #MagiaComÉtica #NosNaTrilha #NosNaTrilhaEcoTurismo #EspiritualidadeReal #OferendasComRespeito #ExuProtetor #LinhaDoCativeiro #TradiçãoAfroBrasileira #MagiaDeRaiz #ExuDosJustos