O Reino dos Cruzeiros e o Povo do Cruzeiro do Mar: Guardiões do Sagrado nas Águas e Encruzilhadas
O Reino dos Cruzeiros e o Povo do Cruzeiro do Mar: Guardiões do Sagrado nas Águas e Encruzilhadas
Na vasta e rica cosmologia da Quimbanda, um dos Reinos mais profundos, místicos e carregados de simbolismo é o Reino dos Cruzeiros. Dentro dele, desponta com força e sensibilidade espiritual o Povo do Cruzeiro do Mar, uma falange cuja atuação transcende os limites entre o visível e o invisível, atuando sob a regência maior do Exu Rei dos Sete Cruzeiros e da Pomba-gira Rainha dos Sete Cruzeiros — casal real que governa com equilíbrio, justiça e grande compaixão todos os Cruzeiros da Quimbanda.
No coração dessa falange marítima encontra-se seu chefe direto: Exu Calunga, também conhecido como Calunga Grande. Ele não é apenas um guardião, mas um guia, um intermediário entre os encantos do oceano e os caminhos da humanidade. Muitos confundem o nome “Calunga” com o mundo dos mortos ou o cemitério — e, de fato, a palavra tem essa conotação na tradição banto. Contudo, na linha do Cruzeiro do Mar, Calunga Grande representa a Calunga Maior: o mar, vasto e misterioso, onde tudo renasce, onde as almas descansam e onde os mistérios da vida e da morte se encontram em perfeita harmonia.
Origem do Povo do Cruzeiro do Mar
A origem do Povo do Cruzeiro do Mar está profundamente ligada às tradições africanas, especialmente às de matriz banto, onde o mar é visto como um grande cemitério sagrado — não de dor, mas de transição. Durante o período da escravidão, muitos africanos jogaram-se ao mar, não por desespero, mas por volta consciente à ancestralidade, crendo que as águas os levariam de volta à sua terra espiritual.
Esses espíritos, que escolheram o oceano como caminho de retorno, foram acolhidos por forças espirituais poderosas e se tornaram parte do Povo do Cruzeiro do Mar. Com o tempo, essa falange foi estruturada sob a autoridade do Exu Rei dos Sete Cruzeiros, que representa o equilíbrio entre os sete pontos cardeais espirituais (os quatro cantos da terra, os dois horizontes e o centro da encruzilhada), e da Pomba-gira Rainha dos Sete Cruzeiros, que traz a força da intuição, da emoção e da transformação.
Onde e Como Atuam
O Povo do Cruzeiro do Mar atua principalmente em locais onde o mar e a terra se encontram: praias, enseadas, falésias, costões, ilhas e até mesmo portos e embarcações. Mas sua ação também se estende a qualquer lugar onde haja cruzeiros — encruzilhadas físicas ou simbólicas — que estejam conectadas à energia das águas.
Seus trabalhos são voltados para:
- Proteção espiritual, especialmente contra inveja, magia negra e obsessões;
- Limpeza kármica e ancestral, ajudando a liberar laços com sofrimentos do passado;
- Abertura de caminhos ligados à emoção, ao amor, à intuição e à prosperidade emocional;
- Auxílio na comunicação com os ancestrais marítimos, especialmente os que partiram pelo oceano;
- Equilíbrio entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos, sem medo, mas com reverência.
Eles não fazem por maldade, não atuam por vingança e nunca agem contra a lei divina. Tudo o que realizam é por amor, lealdade e desejo genuíno de ajudar. São espíritos que compreendem o sofrimento humano porque muitos deles o viveram em vida — e por isso, hoje, escolhem servir com sabedoria.
Entidades do Povo do Cruzeiro do Mar
Além do Exu Calunga (Calunga Grande), chefe direto da falange, encontramos outras entidades importantes que compõem o Povo do Cruzeiro do Mar:
- Exu Maré Alta – regente das transformações profundas, ligado às marés e ao subconsciente;
- Exu Coral – protetor dos segredos guardados nas profundezas, ligado à beleza e à sabedoria oculta;
- Pomba-gira Sereia – que canta nos abismos para atrair almas perdidas de volta ao equilíbrio;
- Pomba-gira Estrela do Mar – ligada à cura emocional e ao renascimento após grandes perdas;
- Exu Caranguejo – guardião das entradas e saídas, dos ciclos, da proteção familiar;
- Exu Naufrágio – que ajuda a superar colapsos emocionais, levando à reconstrução.
Todas essas entidades atuam com respeito, hierarquia e profundo amor pela humanidade. Não buscam fama, nem caos — buscam clareza, paz e evolução.
Como Montar um Altar para o Povo do Cruzeiro do Mar
Montar um altar para essa falange requer simplicidade, respeito e conexão com a natureza. Aqui estão algumas orientações básicas:
Local:
- Pode ser montado próximo a uma janela com vista para o leste (nascente) ou ao sul (encruzilhada ancestral), ou mesmo em um jardim.
- Evite banheiros, cozinhas ou locais de passagem intensa.
Elementos Básicos:
- Cruzeiro de madeira ou ferro, representando a encruzilhada marítima;
- Recipiente com água salgada do mar (ou água doce com sal grosso, se não tiver acesso ao oceano);
- Conchas marinhas, corais naturais (nunca retirados de ecossistemas vivos), pedras de praia;
- Velas em tons de azul-marinho, branco, roxo e vermelho-escuro;
- Ofertas: charutos, cachaça de boa qualidade, flores brancas ou roxas, pão, peixes cozidos (sem tempero forte) — tudo oferecido com reverência;
- Imagens ou símbolos opcionais: âncora, bússola, barco de madeira.
Importante:
Nunca ofereça plástico, lixo, bebidas adulteradas ou alimentos industrializados. O Povo do Cruzeiro do Mar valoriza a pureza natural.
Um Chamado de Amor e Proteção
Mais do que entidades de força, o Povo do Cruzeiro do Mar é um chamado para voltarmos ao nosso centro emocional, para honorarmos nossos ancestrais, para confiarmos nas marés da vida — mesmo nos dias de tempestade. Eles não pedem medo, pedem respeito. Não exigem submissão, mas sintonia.
Sob o comando amoroso do Exu Rei dos Sete Cruzeiros e da Pomba-gira Rainha dos Sete Cruzeiros, e guiados pela sabedoria ancestral de Exu Calunga (Calunga Grande), essa falange nos lembra que todo fim é um novo começo — e que, nas águas do mar profundo, há sempre um caminho de volta à luz.
Que seus ventos soprem a seu favor.
Que suas marés tragam cura.
E que os Cruzeiros do Mar sejam sempre portos seguros para sua alma.
🜂 🌊 🕯️
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Com amor e reverência ao Povo do Cruzeiro do Mar.
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