Pomba Gira do Cruzeiro das Almas: A Rainha que Dança Entre os Vivos e os Mortos
Por uma alma que um dia ouviu os sussurros do além e não teve medo
Pomba Gira do Cruzeiro das Almas: A Rainha que Dança Entre os Vivos e os Mortos
Por uma alma que um dia ouviu os sussurros do além e não teve medo
Ela não temia a noite. Pelo contrário: era nela que encontrava sua força. Enquanto outros fechavam janelas ao som do vento cortante, ela abria a porta e sussurrava: “Entre, minha Rainha… o caminho está limpo.”
Sua vida foi marcada por encontros com o invisível. Desde criança, sentia presenças onde ninguém via, ouvia nomes sendo chamados no silêncio, via vultos dançando sob a luz da lua cheia. Não era loucura — era dom. E foi assim que Pomba Gira do Cruzeiro das Almas a escolheu: não com flores, mas com o farfalhar das folhas secas, com o cheiro de incenso queimado no vento, com o eco de passos em encruzilhadas vazias.
Ela é a guardiã dos Cruzeiros das Almas — aqueles lugares onde as estradas se cruzam, onde os vivos fazem promessas e os mortos vêm buscar justiça. Não é uma Pomba Gira de festa leve, mas de trabalho pesado, de corte, de proteção espiritual profunda, de ligação com os pretos-velhos, caboclos e almas penadas que precisam de luz.
A Vida nas Encruzilhadas do Espírito
Ela cresceu entre cemitérios e terreiros, entre rezas de mãe e sussurros de avó. Aprendeu cedo que morrer não é fim — é passagem. E que há almas que ficam pelo caminho, presas por dor, vingança ou promessas não cumpridas.
Trabalhou como rezadeira, como ouvinte, como curandeira de alma. Muitos vinham a ela com olhos vazios, carregando maldições, invejas, trabalhos pesados. Ela não prometia milagres fáceis — prometia verdade. E com a força de Pomba Gira do Cruzeiro das Almas, limpava, cortava, protegia e guiava.
Dizem que quem é filho ou filha dessa linha não tem medo da morte, porque entende que ela é apenas uma das portas da existência. E que, nas mãos dessa Pomba Gira, até a mais densa escuridão vira caminho de luz.
O Altar do Cruzeiro Sagrado
Seu altar era um ponto de encontro entre os mundos. Localizado preferencialmente perto de uma janela que dá para o leste ou num canto silencioso da casa, era coberto com pano preto, roxo-escuro ou vermelho-sangue, símbolos de mistério, transformação e sacrifício.
Elementos essenciais:
- Imagem ou ponto riscado de Pomba Gira do Cruzeiro das Almas, muitas vezes representada com vestido longo, véu, cruz ou caveira nas mãos, e uma vela acesa ao lado.
- Velas pretas, roxas ou vermelhas, acesas sempre às sextas-feiras ou em dias 2 (Dia de Iemanjá) e 27 (São Benedito).
- Cruz de madeira ou ferro, símbolo do Cruzeiro onde ela atua.
- Caveira simbólica ou crânio de barro, representando a ligação com os mortos.
- Incensos fortes: mirra, benjoim, copal — para abrir caminho entre os planos.
- Água de cheiro ou água fluidificada, para limpeza espiritual.
- Flores roxas, brancas ou vermelhas-escuras: lírios, hibiscos, cravos.
- Taça com cachaça, vinho tinto ou água de coco, ofertada com respeito.
Antes de qualquer trabalho, ela acendia um ponto de fumo e pedia licença aos pretos-velhos e caboclos que acompanham essa linha:
“Pai João, Mãe Maria, abram caminho para a Rainha do Cruzeiro passar.”
Magias das Almas e das Encruzilhadas
Pomba Gira do Cruzeiro das Almas atua em causas de proteção contra magia negra, corte de demandas antigas, libertação de obsessões espirituais, justiça kármica e auxílio às almas perdidas.
1. Banho de Corte e Proteção (lua minguante):
- 7 folhas de arruda
- 7 folhas de guiné
- 1 punhado de sal grosso
- 3 cravos-da-índia
Ferver, coar e usar do pescoço para baixo após o banho comum. Pedir à Pomba Gira que corte toda energia negativa e fechamento espiritual.
2. Trabalho no Cruzeiro (com autorização espiritual):
Levar uma vela preta, um copo de cachaça e um punhado de fumo a uma encruzilhada limpa (nunca suja ou perigosa). Acender a vela, ofertar com respeito e pedir que a entidade leve embora o que não serve mais. Nunca fazer sem orientação espiritual prévia.
3. Oração pelas Almas Penadas:
Acender uma vela branca e uma preta lado a lado, rezar um Pai-Nosso e uma Ave-Maria pelas almas que precisam de luz, e pedir à Pomba Gira que as guie. Oferecer água e flores no dia seguinte.
Oferendas com Respeito ao Além
Pomba Gira do Cruzeiro das Almas aprecia oferendas feitas com seriedade, reverência e intenção clara:
- Cachaça ou vinho tinto, derramado na terra ou em taça no altar.
- Fumo de rolo ou charuto, aceso em respeito.
- Pão, mel e flores brancas, para acalmar almas aflitas.
- Moedas antigas ou de cobre, deixadas em encruzilhadas como pagamento espiritual.
- Velas acesas em cemitérios (sempre com permissão e respeito às regras locais), em nome das almas esquecidas.
Nunca brinque com essa linha. Ela é profunda, séria e poderosa. Mas para quem a respeita, é uma das maiores protetoras que existem.
A Guardiã que Nunca Abandona
Ela ensinou que não há escuridão que resista à luz de uma alma decidida. Que os mortos não são inimigos — são mestres. Que as encruzilhadas não são perigosas — são portais.
Hoje, seu espírito caminha nas noites de neblina, entre os Cruzeiros sagrados, guiando os perdidos, protegendo os filhos e cortando as correntes que prendem almas ao sofrimento.
E se, ao passar por uma encruzilhada à meia-noite, você sentir um frio suave e ouvir uma risada baixa, quase musical… saiba: Pomba Gira do Cruzeiro das Almas está ali, pronta para te lembrar que a morte não é o fim — é apenas o começo de outra dança.
“Nas encruzilhadas da vida, eu te espero. Com vela acesa, com coração aberto. Porque onde há sombra, também há poder.”
— Sussurro de uma filha de Pomba Gira do Cruzeiro das Almas
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