domingo, 23 de novembro de 2014

CONTOS DE UM VELHO PAJÉ


Na mata virgem
- Venha filho, vamos caminhar.

Assim anunciou o velho Pajé, balançando um maracá, quando me dei por conta estava em meio a uma clareira em plena mata virgem, árvores frondosas e maravilhosas raramente vistas no plano físico da vida. Ele me conduziu para uma estreita trilha.

- Filho vamos para uma experiência importante, é necessário que não dê tanta importância a beleza do lugar, mas sim apure seus sentidos, visão, olfato, tato, paladar e serenidade. Perceba a textura do chão no seu pé, a leveza das folhas em suas mãos, o cheiro de ervas no ar e a brisa fresca a acarinhar sua face.

- Posso sentir o gosto de seiva na boca Pajé.

- Sinal que já está próximo do que quero filho. Respire fundo e feche os olhos.

- Pajé, posso enxergar com olhos fechados! ’¶ exclamei emocionado.

- O que vê filho?

- Vejo troncos de luz, silfos, salamandras, folhas irradiantes...

- Lentamente abra os olhos.

- Sim...

- Continua vendo?

- Nitidamente Pajé...

- O que vê filho é a vida neste reino natural, tão mal percebida pelos encarnados e infelizmente entre os próprios fiéis do culto á natureza.

- Umbanda?

- Sim.

- Apure sua visão e perceba que é possível ver a seiva circular dentro das arvores, escutar o coração bater no peito dos pássaros e experienciar a presença dos entes invisíveis ao olho material, que são eles, os duendes, gnomos, fadas, silfos, ninfas e tanto mais.

- Quanta beleza Pajé!

- Quanta vida filho, quanta vida!

- Sim, pulsante...

- Agora me acompanhe.

Nos dirigimos a outra clareira, lá tinha muitas pessoas, vestidas de branco, colares, atabaque e muitas frutas, logo notei que se tratava de um terreiro pronto a iniciar uma atividade, curioso fiquei a observar atentamente, encantado com o toque harmônico da curimba e os raios de luz que espargiam no ambiente em direção dos presentes a cada batida das mãos no couro. Alguns outros se organizavam para no meio da roda depositar as oferendas, muitas frutas, velas, incensos, bebidas. Conseguia visualizar a luminosidade áurica de cada um, em cores e tons dos mais variadas.

- Filho, este grupo de cultuadores da natureza divina, está realizando um culto de exaltação ao senhor das matas...

- Pai Oxossi!

- Sim, e para tanto é comum postar oferendas em seu louvor, na Umbanda recorremos ao uso da natureza, como frutas, pedras, bebidas, incenso etc. Dispensando qualquer uso de imolação de animais.

- Sei Pajé, compreendo e tenho pra mim que é o correto, somente que muitos que cruzam o culto de umbanda com o africano recorrem á praticas da imolação.

- Sim filho, porém não vamos acessar este assunto no momento, vamos nos ater a esta liturgia de hoje e colher as impressões pertinentes.

- Sim Senhor.

Ele calado sacudia seu maracá e eu observando tudo, vi que as frutas emitiam luzes e quando cortadas era como que se abrisse uma caixa de luz, que de dentro um clarão escapava e por alguns minutos ficavam ali a iluminar e criando um campo de luz e energia indescritível. Quando a curimba acelerou o toque vi um portal se abrir na frente da oferenda e dele dezenas de caboclos caboclas e encantados saíram, abraçaram todos os presentes, dançavam e cantavam. Realmente era uma festa, uma exaltação e finalmente entoam o ponto...
...As matas estavam escuras...e um anjo a iluminou...e no centro da mata virgem...foi Oxósse quem chegou...mas ele é o rei ele é o rei ele é o rei... As folhas no chão começaram a voar e as entidades presentes em reverência batiam a cabeça ao chão, quando como que uma explosão e uma luz cegante se fez presente um emissário do Sr. Oxossi, sua luz verde era intensa que não pude me manter com a cabeça levantada, os caboclos ajoelhados bradavam em reverência e louvor, do lado físico alguns médiuns entravam em transe energético e a curimba acelerava o toque, poucos segundos passados novamente a explosão e Oxossi se recolheu. Na oferenda a luz era mais intensa.

Com os médiuns em oração e ajoelhados, as entidades estendiam as mãos em direção a oferenda e o inusitado acontecia. Dos elementos saiam uma substância esverdeada parecido com uma massa elástica que eles moldavam e iam aplicando nos fiéis presentes, rapidamente era absorvido pelos chakras e a luminosidade do corpo aurico deles era modificado, sutilizava e irradiava mais. Por alguns minutos este procedimento ocorreu e as entidades se recolheram para o portal mencionado.

- Viu filho, nenhuma entidade comeu as frutas.

- Mas eles não precisam comer para ficar tratado?

- Não filho, compreenda que somos de uma dimensão bem mais sutil que a de vocês e se nos aventurássemos a ingerir o prâna dos vegetais do plano físico nos traria grande desarranjo energético, quando precisamos nos ’³alimentar’´ encontramos o mesmo em nossa esfera e não na de vocês.

- Entendo...

- Entenda também que fora a liturgia religiosa, a necessidade de oferendas são para vocês mesmos que quando encarnaram perderam a capacidade de extrair o prâna da natureza e recorrem a esta prática para que nós os mentores os auxilie na extração e aplicação do prâna em vocês mesmos.

- Para que?

- A fim de sutilizar vossas energizar, equilibrar os chakras, curar doenças e muito mais. Também guardamos para os médiuns usarem nos atendimentos.

- Pajé de onde tiram tantas teorias que só ajudam a complicar a compreensão?

- Talvez das observações limitadas ao próprio conhecimento, ruim é quando saem do bom senso e fundamentam suas teorias no absurdo.

- Podemos fazer sempre oferendas?

- Sim, quando e onde bem entender e lá um de nós estaremos a auxiliar na extração do prâna.

- Incrível.

- Agora vamos filho, logo em breve retomamos esta prosa para aprofundamentos práticos, aproveite e vamos ensinar estas práticas...

Acordei após estas palavras, poderia ser um sonho...quero como uma revelação.

Saravá!

EXU DA TRONQUEIRA


Da entrada do terreiro observo os trabalhos. Os médiuns ocupam seus lugares. Velas já firmadas. Pontos irradiando.
Todos integrantes começam a bater cabeça enquanto a vibração dos pontos cantados e tocados pelos atabaques diversificam-se pelo salão. O dirigente recebe as coordenadas. Os mentores e guias irmãos ficam preparados.
Na assistência esperam consulentes, pessoas que frequentam a casa assiduamente, outros vindos pela primeira vez indicados por amigos. Umas pessoas estão emocionadas, não sabem explicar. Eu sei..são seus mentores que se fazem presentes.
Outras estão suando, passando mal, agoniadas, querendo sair. Espíritos trevosos vieram com elas, mas entendendo onde estão agora, prezam para sair antes que sejam capturados e resgatados. Com certeza não poderão sugar mais energias das pessoas que acompanham no plano terreno.
O dirigente inicia os trabalhos.Na corrente um médium bambea, parece que vai cair. Observo seu caboclo ao lado.
O médium é iniciante, não está totalmente integrado ao seu guia. Com fé e paciência, com o tempo, certamente incorporará seu caboclo. Demais médiuns da corrente já incorporaram.
O caboclo chefe manifesta-se no dirigente igual a primeira vez quando trouxe as primeiras mensagens.
Na sequencia que outros caboclos chegam a energia positiva se multiplica. A egrégora é fortificada.
Estes caboclos durante os passes retiram da assistência os obcessores, eguns e kiumbas. Limpam as pessoas perturbadas.
De um jeito sério e fraterno transmitem paz e segurança. Consequentemente levando esperança a muitas pessoas que têem em mente que seria o ´´último “lugar que procurariam ajuda na sua agonia. Agora sentem-se aliviadas.
Digo por experiência que em breve algumas delas estarão manifestando seus guias.
Todavia acostumado ver esta situação sempre me emociono.
De onde estou continuo a acompanhar os trabalhos.
Na assistência uma jovem que permanecia sentada, de repente levanta-se e pôe a vociferar.
Moça de voz melodiosa e serena transforma-se totalmente. Sua voz fica grave e arrogante.
Ela tenta agredir os cambonos da casa, que são médiuns auxiliares, habitualmente conduzam os necessitados para o salão principal onde são realizados os trabalhos.
O kiumba que acompanha a jovem é perigoso e ao cruzar a entrada: grita e xinga tentando machucar a moça possuida.
Tudo isso devido ela ter se afinizado com ele, pensando negativamente, acompanhando amigas em lugares de baixas vibrações, tomar atitudes contrárias ao modo que foi bem criada, permanecer ao lado de uma pessoa que não entende a caridade, entre outras situações.
Os caboclos alertas abrem a roda. Os atabaques soam em ritmo apropriado para a descarga energética.
O caboclo chefe olha para outro irmão de luz, que entendendo rodeia a moça criando um campo de força para que ela não se machuque. O caboclo da moça também irradia com força sobre ela.
Chegou minha hora, aproximo-me tranquilamente. O kiumba desesperado tenta evitar meu olhar.
Não percebeu, mas já teve suas forças exauridas pelos elementos dos trabalhos.
Sorrindo vou em sua direção. Ele ofende, grita e esbraveja.
O caboclo ordena pelo meu apoio.
Dou um salto na qual encosto a lâmina de minha espada no pescoço do kiumba. Domino-o com facilidade. Chamo outros guardiões que o amarram e colocam no liame, á beira de um círculo de velas. Durante os estudos os médiuns chamam de Mandala Ígnea. Um portal magístico.
O kiumba se joga dentro. Preferiu ser resgatado a uma dimensão paralela, para seu próprio aprendizado e evolução.
Foi esperto… se ficasse iria perder a garganta.
Outros kiumbas menores também são capturados e levados a lugares de merecimento.
A moça volta ao estado normal. Algumas pessoas da assistência comentam que as velas em poucos minutos queimaram muito rápido, estão no fim, faltando pouco para acabarem. Os menos entendidos colocam a razão num vento que não existiu ou na parafina que poderia ser fraca.
Não sabem eles o trabalho benéfico que se faz no astral durante o tempo que permanecem sentados.
Acham muito o tempo para espera. Eu acho pouco o tempo para trabalho.
Enfim, nós mentores e guias fazemos o que podemos segundo necessidade e merecimento de cada um.
Os caboclos acabam os descarregos tirando os resíduos e agradecem meu auxílio.
Volto ao meu lugar na tronqueira e observo o fim dos trabalhos.
Minhas velas, charutos e marafos estão firmados para segurança.
Os trabalhos terminam, todos se vão felizes.
E eu na porteira estou…Sentinela.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Parábola de Jesus no terreiro


jesus

Estava começando a escurecer, quando Jesus chegou num terreiro. O pessoal que entrava, o saudava e dizia:
“Boa Noite, Jesus! Entre e participe com a gente!”
Jesus entrou. Viu o povo reunido. A maioria era pobre. Alguns, não muitos, da classe média. Todo mundo dançando, alegre. Havia muita criança no meio. Viu como todos eles se abraçavam.
Viu como os brancos eram acolhidos pelos negros como irmãos. Jesus, ele também, foi sendo acolhido e abraçado. Estranhou, pois conheciam o nome dele. Eles o chamavam de Jesus, como se fosse um irmão e amigo de longa data. Gostou de ser acolhido assim. Viu também como a Mãe-de-santo recebia o abraço de todos e como ela retribuía acolhendo a todos. Viu como invocavam os orixás e como alguns vinham distribuindo passes para ajudar os aflitos, os doentes e os necessitados.
 
Jesus também entrou na fila e foi até a mãe-de-santo. Quando chegou a vez dele, abraçou-a e ela disse:
“A paz esteja com você, Jesus!”
Jesus respondeu:
“Com a senhora também!”
E acrescentou: “Posso fazer uma pergunta?”
E ela disse: “Pois não, Jesus!”
E ele: “Como é que a senhora me conhece? Como é que o pessoal sabe o meu nome?”
E ela falou: “Mas Jesus, aqui todo mundo conhece você. Você é muito amigo da gente. Sinta-se em casa no meio de nós!”
Jesus olhou para ela e disse: “Muito obrigado!”
E continuou: “Mãe, estou gostando! O Reino de Deus já está aqui no meio de vocês!”
Ela olhou para ele e disse: “Muito obrigado, Jesus!
Mas isto a gente já sabia. Ou melhor, já adivinhava! Obrigado por confirmar a gente. Você deve ter um orixá muito bom. Vamos dançar, para que ele venha nos ajudar!”
E Jesus entrou na dança. Dentro dele o coração pulava de alegria. Sentia uma felicidade imensa e dizia baixinho:
“Pai, eu te agradeço, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste ao povo humilde aqui do terreiro.
Sim, Pai, assim foi do teu agrado!”.
Dançou um tempão. No fim, comeu pipoca, cocada e batata assada com óleo de dendê, que o pessoal partilhava com ele.
E dentro dele, o coração repetia sem cessar:
“Sim, o Reino de Deus chegou! Pai, eu te agradeço! Assim foi do teu agrado!”

domingo, 2 de novembro de 2014

História Contada Por Sr. Exu Da Capa Preta

Salve Sr. Exu da Capa Preta - Por Cásso Ribeiro
O ônibus estava lotado, eu não conseguia vê-la, mas sabia que estava lá.
Podia senti-la, captava sua angustia, sua indecisão, e acima de tudo seu
medo. Ela não estava só, alem de mim, vi outros que a acompanhavam. Eram
de outra faixa vibratória, pertenciam ao passado.Tentavam envolvê-la com
uma energia densa e pegajosa. Sempre que faziam isso ela ficava mais
nervosa e também mais decidida. Eu os via, mas eles não me notavam. À
medida que o ônibus avançava pelas ruas centrais mais e mais pessoas
entravam. Todos apressados para chegar em casa. O coletivo corria em
direção a periferia da cidade. Ela esta lá, meio deslocada, olhava com
insistência um pedaço de papel. Ali em suas mãos o endereço que segundo
ela mudaria seu destino. Ato continuo ela toca a campainha, o ônibus
para, descemos... Aqueles que a acompanham, vibram, ela esta na
iminência de servir como instrumento na vingança que planejam há muito
tempo. Vibram com tanto ódio que ela enfureceu-se consigo mesma. Como se
deixara envolver por aquele rapaz? Tinha que resolver isso imediatamente
e tratar de seguir sua vida, sem que seus pais soubessem. Ela verifica o
número anotado, esta perto. Chega a uma casa humilde, como todas as
outras ali no bairro. Toca a campainha é atendida por uma senhora que
executara o serviço. A mulher a analisa rapidamente, já vira muitas
iguais a ela, não tem tempo para conversa fiada.Pede-lhe o dinheiro e
manda que espere, pois existem duas mulheres na frente dela. Ela
senta-se e aguarda. Eu tenho que agir rápido. Vibro minha espada no ar,
e os seres trevosos que a acompanham estarrecem ante minha presença.
Fatalmente eles me notam,agora ou correm ou me enfrentam. Decidem
sabiamente pela primeira opção, saem da casa, mas ficam do lado de fora,
tentando contatar outros que podem vir ajudá-los. Aproveito para me
aproximar dela. Envolvo-a com minha capa, ela se acalma, por um
instante, sugestionada por mim e titubeia. Já não tem certeza se deve
continuar. Eu vibro em seu mental para que saia dali vá tomar um ar
fresco lá fora. Ela me atende. Quando chega , ainda envolvida por minha
capa, torna-se invisível para os que a acompanham. Tenho que me
materializar. Ela assusta-se ao me ver, tenta gritar não consegue, tenta
voltar para dentro da casa, mas eu a impeço. Chamo-a pelo nome, digo-lhe
que não deve me temer, falo que venho em paz. Tenho uma missão: Evitar
que ela faça o aborto. Não deve impedir aquele espírito de vir ao mundo.
Pouco importa se a concepção fora fruto de uma aventura. Deve deixá-lo
vir. Será um menino, veio do passado para cumprir uma missão, ela não
deve abortá-lo. Sei que seus pais não aprovarão a gravidez, mas me
comprometo a acalmá-los e fazê-los aceitar. Ela chora, não entende como
pode estar ouvindo aquilo. Falo com tanta firmeza que ela quer saber
quem sou. Digo-lhe que me chamam de Exu Capa Preta, sou um guardião,
protegerei o menino que ela carrega no ventre. Estarei ao lado dele a
vida toda, acompanhando-o, guiando-o e protegendo-o. Portanto ele não
deve temer. Chorando ela consente, avança para a rua, toma um ônibus e
retorna para casa. Protejo-a durante a gravidez, o menino nasce forte e
saudável, cresce sem sobressaltos como prometi. Sempre que acho
conveniente deixo-o que me veja, aos poucos vou me apresentando. Hoje
ele esta feliz, acabara de completar 18 anos.Seus amigos comemoram a
data festiva. Movido pela curiosidade o rapaz resolve conhecer um
terreiro de Umbanda. Estou ansioso, chegou meu grande dia! Ele chega,
senta na assistência. Lá dentro uma gira de Exu. Eu já me entendi com o
Exu chefe da casa, somos bem vindos. Quando ele entra para tomar um
passe com linda Pomba Gira eu tomo-lhe à frente e incorporo. Abraço a
moça com carinho, já nos conhecemos de longa data, fumo, bebo, canto.
Daqui para frente haverei de incorporar sempre que necessário. E assim
foi. Ele desenvolveu, abriu seu próprio terreiro, cumpre com amor e
carinho sua missão. De minha parte não o abandono nunca. Estou sempre
disposto e feliz.




Dando início a uma destas reuniões mediúnica num centro espírita orientado pela doutrina de Allan Kardec, foi feita a prece de abertura por um dos presentes. Iniciando-se as manifestações, pequenas mensagens de consolo e apoio, foram dadas pelos desencarnados aos membros da reunião.

Quando se abriu o espaço destinado à comunicação de Espíritos necessitados, ocorreu o inesperado: a médium Letícia fica sob a influência de um Espírito

O dirigente, como sempre fez nos seus vinte e tantos anos de prática espírita, deu-lhe as boas-vindas, em nome de Jesus.

- Seja bem-vindo, meu irmão, nesta casa de caridade, disse-lhe Dr. Anestor.

O espírito respondeu:

- Boa noite, Fio. Suncê me dá licença prá eu me aproximá de seus trabalhos, Fio?".

- Claro, meu companheiro, nosso centro espírita está aberto a todos os que desejam progredir, respondeu o diretor da mesa.

Todos os presentes perceberam que a entidade comunicante era um preto-velho, a entidade continuou:

-"Vósmecê não tem aí uma cachacinha prá eu bebê, Fio?".

- Não, não temos, disse-lhe Dr. Anestor. Você precisa se libertar destes costumes que traz dos terreiros, que é o de ingerir bebidas alcoólicas.

O Espírito precisa evoluir, completou o dirigente.

- Vósmecê num tem aí um pito? Tô com vontade de pitá um cigarrinho, Fio.

- Ora, meu irmão, você deve deixar o mais breve possível este hábito adquirido nas práticas de terreiro, se é que queres progredir. Que benefícios traria isso a você?

O preto-velho respondeu:

- Preto-véio gostou muito de suas falas, mas suncê e mais alguns dos médiuns não faz uso do cigarro, Fio? Suncê mesmo num toma suas bebidinhas nos fins de sumana? Vós mecê pode me explicá a diferença que tem o seu Espírito que beberica `whisky' lá fora, do meu Espírito que quer beber aqui dentro? Ou explicá prá mim, a diferença do cigarrinho que suncês fuma na rua, daquele que eu quero pitar aqui dentro, Fio?

Dr. Anestor não pôde explicar, mas resolveu arriscar: - Ora, meu amigo, nós estamos num templo espírita e é preciso respeitar os trabalhos de Jesus. O preto-velho retrucou, agora já não mais falando como caipira:

- Caro dirigente, na escola espiritual da qual faço parte, temos aprendido que o verdadeiro templo não se constitui nas quatro paredes a que chamais centro espírita.

Para nós, estudiosos da alma, o templo da verdade é o do Espírito. E é ele que está sendo profanado com o uso do álcool e do fumo, como vêm procedendo os senhores. Vosso exemplo na sociedade, perante os estranhos e mesmo seus familiares, não tem sido dos melhores. O hábito, mesmo social, de beber e fumar deve ser combatido por todos os que trabalham na Terra em nome do Cristo. A lição do próprio comportamento é fundamental na vida de quem quer ensinar.

Houve grande silêncio diante de tal argumentação segura. Pouco depois, o Espírito continuou:

- Suncê me adescurpa a visitação que fiz hoje, e o tempo que tomei do seu trabalho. Vou-me embora para donde vim, mas antes, Fio, queria deixar a suncês um conselho: que tomem cuidado com suas obras, pois, como diria Nosso Sinhô', tem gente coando mosquito e engolindo camelos.

- Cuidado, irmãos, muito cuidado. Preto-véio deixa a todos um pouco da paz que vem de Deus. Ficam meus sinceros votos de progresso a todos os que militam nesta respeitável Seara".

Dado o conselho, afastou-se para o mundo invisível. Dr. Anestor ainda quis perguntar-lhe o porquê de falar "daquela forma", mas não houve resposta. No ar ficou um profundo silêncio, uma fina sensação de paz e uma importante lição para todos meditarem.

Autor Desconhecido

Preto_Velho1

Mensagem de Preto Velho
Pai Jerônimo

“Um certo dia, ele atendeu de uma senhora que lhe veio consultar sobre um tumor nos seios, diagnosticado por uma mamografia.
Passes daqui, trabalhos dali, enfim, uma consulta normal…vela, erva, água…
Disse o preto:
- É mizim fia… Tá feito…mas num deixa de procurá o Homi de branco, dispois vem contá pro nego…nego vai ficá no toco esperando zunce vortá…
E saiu a consulente.
Numa próxima gira, estava lá o preto no toco e chegou a sua consulente, já na segunda parte do trabalho.
- Podi entrá mi zim fia, tava le esperano….
- É meu Velho, fui no médico sim… ele disse que o tumor sumiu, vai ver foi engano, o que a mamografia mostrou foi uma sombra de um queloide, que eu já tinha de cirurgia anterior. mas vim lhe agradecer, pois sei que o Senhor me curou..
Diga, meu Pai, o que o Senhor quer de presente, quero lhe agradecer…
Em nossa casa, as entidades as vezes ganham presentes, charutos, bebidas, mas não que peçam, porque as pessoas trazem em agradecimento mesmo, como deve ser em todo lugar.
Mas naquele dia o preto pediu…
- Me traga um bolo de chocolate, mi zi fia, suncê pode faze isso…?? Mais tem qui ser na próxima gira… eu num vô tá aqui, mas fala com o caboclo chefe que ele manda mi chamá….
Todos estranharam, e eu mais ainda, passei a semana pensando naquele pedido, eu que amo bolo de chocolate, pensava comigo, Meu Velho… porque um bolo, Meu Pai… Até os filhos da casa acharam estranho e houve uma brincadeira ou outra… do tipo achando que iam comer o bolo….Alguém arriscou dizer que era a comemoração pela cura da mulher… Enfim… esperei ansiosa… Afinal… confio neles.
Em verdade torci para a mulher nem aparecer com aquele bolo…
Mas ela apareceu, e sentou na primeira fila, como tal bolo, todo confeitado de confetes coloridos.
Chegou o preto, com autorização do chefe do terreiro, que é Seu Serra Negra….
- Trouxe meu bolo, mi zim fia…
- Trouxe meu velho…
Então o preto levantou e disse que na assistência tinha uma menina, de cor morena, que estava fazendo aniversario, 14 anos, e chamou-a.
Disse à menina:
- Mi zim fia, esse é presente que sunce pediu ao seu anjo da guarda, ele não pode vir, mandou o nego te entregar…
A criança marejou os olhos e saiu com o bolo na mão, sentar ao lado da mãe, que chorava muito na assistência. Em 14 anos, nunca havia ganhado um bolo de chocolate….Nunca mais voltou, nunca mais vimos. E nunca esquecemos esta história.”
Autor desconhecido