domingo, 27 de julho de 2014

Exú



Gotas

Exu ganha o poder sobre as encruzilhadas
Gotas
Exu não tinha riqueza, não tinha fazenda, não tinha rio,
não tinha profissão, nem artes, nem missão.
Exu vagabundeava pelo mundo sem paradeiro.
Então, um dia, Exu passou a ir à casa de Oxalá.
Ia à casa de Oxalá todos os dias.
Na casa de Oxalá, Exu se distraía,
vendo o velho fabricando os seres humanos.
Muitos e muitos também vinham visitar Oxalá,
mas ali ficavam pouco,
quatro dias, oito dias, e nada aprendiam.
Traziam oferendas, viam o velho orixá,
apreciavam sua obra e partiam.
Exu ficou na casa de Oxalá dezesseis anos.
Exu prestava muita atenção na modelagem
e aprendeu como Oxalá fabricava
as mãos, os pés, a boca, os olhos, o pênis dos homens,
as mãos, os pés, a boca, os olhos, a vagina das mulheres.
Durante dezesseis anos ali ficou ajudando o velho orixá.
Exu não perguntava.
Exu observava.
Exu prestava atenção.
Exu aprendeu tudo.

Um dia, Oxalá disse a Exu para ir postar-se na encruzilhada
por onde passavam os que vinham à sua casa.
Para ficar ali e não deixar passar quem não trouxesse
uma oferenda a Oxalá.
Cada vez mais havia mais humanos para Oxalá fazer.
Oxalá não queria perder tempo
recolhendo os presentes que todos lhe ofereciam.
Oxalá nem tinha tempo para as visitas.
Exu tinha aprendido tudo e agora podia ajudar Oxalá.
Exu coletava os ebós para Oxalá.
Exu recebia as oferendas e as entregava a Oxalá.
Exu fazia bem o seu trabalho
e Oxalá decidiu recompensá-lo.

Assim, quem viesse à casa de Oxalá
teria que pagar também alguma coisa a Exu.
Quem estivesse voltando da casa de Oxalá
também pagaria alguma coisa a Exu.
Exu mantinha-se sempre a postos
guardando a casa de Oxalá.
Armado de um ogó, poderoso porrete,
afastava os indesejáveis
e punia quem tentasse burlar sua vigilância.
Exu trabalhava demais e fez ali a sua casa,
ali na encruzilhada.
Ganhou uma rendosa profissão, ganhou seu lugar, sua casa.
Exu ficou rico e poderoso.
Ninguém pode mais passar pela encruzilhada
sem pagar alguma coisa a Exu.

quinta-feira, 24 de julho de 2014

Pomba Gira Rosa Caveira - vale a pena ler!

O Texto abaixo, eu encontrei no face do amigo João Augusto e vi nele tantos ensinamentos que resolvi coloca-lo no site para que não se perca.

Um dos ensinamentos é justamente que os nomes adotados pelas entidades possuem significado e energia atuante, são na verdade campos energéticos de trabalho. Através do texto, meus filhos já poderão compreender o porquê temos a baiana Rosa Flor atuante em nossa casa.

Espero que aproveitem a leitura.



Abraços e Luz,

Mãe Solange de Iemanjá.



Rosa caveira

Um dia uma moça me procurou e perguntou meu nome. Eu disse: ―Sou Rosa Caveira. Ela respondeu:

 ―Credo! E eu: ―Credo por quê? Qual o motivo?

 ―Esquisito..., tornou ela.

Bom, para quem não me conhece vou explicar esse nome.

Sou Rosa Caveira.

Trabalho pela Rosa do Amor da Vida, trazendo a Caveira da Morte para tudo aquilo que pretenda matar o Amor.

 Não sou dona da Rosa e nem da Caveira. Sou apenas filha e servidora, por devoção. Do meu jeito, do jeito que posso.

 A Rosa é símbolo da Mãe da Compaixão.

 A Caveira é símbolo do Pai da Vida.

 A Rosa é o Amor Divino que não morre nunca.

 A Caveira só mostra e recolhe o que não pertence ao Amor, para restaurar a Vida. Pois sem Amor não há Vida.

 Trago a Rosa para dar Vida a quem desaprendeu a amar.

 Trago a Caveira para recolher o sentimento de amor que secou no coração humano.

Se você olha para uma rosa, nem sempre lembra que a raiz dela está na terra. E a terra precisa de qualidade para manter essa vida. O que sustenta a flor não é visível ao olho comum. E o que pode estar matando a flor também não.

 Quem secou por dentro do coração deixou de viver. Ninguém vê, mas está acontecendo. Então eu trago a Caveira para recolher essa dor, essa “morte em vida”. E trago a Rosa para renascer aquele coração.

 Sou Rosa Caveira. E só. Ajudo como posso, para que mais e mais corações estejam vivos. E para que todos compreendam que Morte é renascimento, e nunca é fim.

 O tecido que adoece precisa ser removido, para que um novo surja e o todo se mantenha vivo. Tudo trabalha para que o Amor permaneça, pois Ele é Fonte de Vida.

 Nenhuma dor vem sozinha. Ela traz consigo a força da reparação.

 É isso que faço: trago caminhos de reparação para as dores do coração, para que todos tenham Vida.

 Receba da minha Rosa o Amor, a cor, o perfume, a luz. Desperte no seu coração o gosto pela Vida, que nasce alimentado pelo Perdão, pela Compaixão e a Misericórdia de Deus.

 Entregue para a minha Caveira tudo aquilo que vem consumindo o seu coração: a mágoa, o ressentimento, a revolta, o desamor, o desespero, a falta de confiança e o desrespeito por si mesmo, os pensamentos de vingança, tudo.

 E não queira amarrar ninguém ao seu lado! Porque o Amor não se impõe, Ele só abraça, acarinha e dá Vida. Desista desse crime, porque o Olho que Tudo Vê é também o Pai da Liberdade.

 Limpe a taça do seu coração do fel do desejo de posse a qualquer preço. Alimente-o com o Mel da Mãe da Compaixão, para ter também o amparo do Pai da Vida.

 Escolha se quer estar vivo ou se pretende ser um morto-vivo.

Sua alma não morrerá nunca. Mas os seus sentimentos podem adoecer e secar. Não permita. Cultive rosas no seu coração e encontrará perfume em todos os caminhos por onde passar.

Aceite a Rosa que lhe ofereço.

A Caveira não lhe posso dar. Sem ela eu não teria como lhe ajudar a se tornar, para todo o sempre, uma filha ou um filho devoto da Rosa Maior.

Aceite a Rosa do Amor e cultive-a no coração. Foi Ela quem me salvou quando eu andava perdida na escuridão, buscando morrer, sem saber que as almas não morrem jamais.

Por isso me tornei uma servidora da Rosa e uma portadora da Caveira.

Esta Caveira só faz por nos lembrar de que “morte” é ilusão, pois o que existe é a Eternidade da Vida.

Então, aproveite! Reaqueça seu coração de Amor e viva a Eternidade desde já.

 Laroyê Dona Rosa Caveira!!

quarta-feira, 16 de julho de 2014

ACREDITE NA PRÓPRIA LUZ
Uma Médium de Umbanda (Consciente) que Incorporada com Caboclo no Terreiro de Umbanda (e ele dava o passe), certo dia questionou o chefe do terreiro se o que o seu caboclo fazia realmente ajudava as pessoas, ela achava que não era capaz e duvidava de si mesma e de sua entidade.
Um dia o caboclo foi dar o passe numa criança de uns 4 anos, e em alguns momentos, durante o passe, a menina tentava pegar no ar algo perto das suas mãos.
No final da sessão, ela já desincorporada, foi até aos pais da menina e perguntou o que ela estava tentando fazer durante o passe. A menina disse: "eu queria pegar aquelas luzes azuis que saiam da sua mão, queria levar pra mim.”
Foi assim que essa Médium passou a se dedicar com muito mais amor ao trabalho que realizava no terreiro e entendeu que sua entidade através dela e com a ajuda da espiritualidade, trazem uma centelha da luz divina, para todos que procuram à seara de Oxalá.
Sarava a Umbanda !!
ACREDITE NA PRÓPRIA LUZ  Uma Médium de Umbanda (Consciente) que Incorporada com Caboclo no Terreiro de Umbanda (e ele dava o passe), certo dia questionou o chefe do terreiro se o que o seu caboclo fazia realmente ajudava as pessoas, ela achava que não era capaz e duvidava de si mesma e de sua entidade.   Um dia o caboclo foi dar o passe numa criança de uns 4 anos, e em alguns momentos, durante o passe, a menina tentava pegar no ar algo perto das suas mãos.  No final da sessão, ela já desincorporada,  foi até aos pais da menina e perguntou o que ela estava tentando fazer durante o passe. A menina disse: "eu queria pegar aquelas luzes azuis que saiam da sua mão, queria levar pra mim.”   Foi assim que essa Médium passou a se dedicar com muito mais amor ao trabalho que realizava no terreiro e entendeu que sua entidade através dela e com a ajuda da espiritualidade, trazem uma centelha da luz divina, para todos que procuram à seara de Oxalá.  Sarava a Umbanda !!

segunda-feira, 14 de julho de 2014

Ogum orienta filha de fé

A encruzilhada estava muito escura, muito vento, sozinha ela sentia muito medo de alguma violência, mesmo com o marido dentro do carro com os faróis acesos para clarear um pouco aquela intensa escuridão.
Trêmula e temente, ela saúda os quatro cantos da encruzilhada, posta-se no meio e ajoelha-se, imediatamente é tomada por uma dor profunda e chora, chora muito, com dificuldade posiciona o alguidar, abre a cerveja, corta as frutas e tenta acender as velas sem sucesso devido tanto vento, acende com dificuldade o charuto e saúda alto: “-Valei-me meu Pai 
Ogum!” e mais uma vez o pranto toma conta dos seus sentidos, as lágrimas caem no alguidar e banha a singela oferenda…
Do lado espiritual um clarão ilumina aquela inóspita encruzilhada e de frente à oferenda ele se posiciona, é um mensageiro de Ogum, com ele simultaneamente aparecem dezenas de Guardiões Exus, formam um verdadeiro cinturão no perímetro da encruzilhada, desenhando uma roda de proteção.
Ogum dos Sete Caminhos toca a ponta de sua espada na cabeça de Eliza que “desmaia”, quando se dá conta está do lado espiritual, vê seu corpo no chão e se alegra com a miragem daquele mensageiro à sua frente.
- Porque tanta dor minha filha?
- Meu Pai Ogum, não aguento tanto sofrimento, tudo dá errado para mim, tudo foge do controle, dívidas que não acabam, problemas no casamento, desarmonia na família. Meu Pai, sinto que tenho muito olho gordo na minha direção, também desconfio que estou sob efeito de forte “magia negra” e estou convencida de que isso é o que está fechando meus caminhos.
- Filha, segure minha mão.
Ao encostar as mãos nas de Sr. Sete Caminhos, uma luz intensa envolveu o corpo de Eliza, que foi projetada ao passado de sua memória presente agora vista por um ângulo que não gostava de imaginar, seguiram algumas cenas:
“A casa toda bagunçada, os dois filhos pequenos brincando com o pai, Eliza na cozinha preparando a janta, enquanto cortava os legumes reclamava baixinho da própria vida: – Não aguento mais cuidar desta casa, fazer comida, limpar, educar filhos. Queria mesmo é estar agora num restaurante, voltar para casa e dormir, não ter hora para acordar amanhã…”
“É dia do aniversário de casamento de 10 anos de Eliza e Roberto, ela acorda depois dele, vai para a cozinha, onde o marido o espera com a mesa posta e flores decorando o ambiente:
- Bom dia querida!
- O que é isso Roberto? Enlouqueceu? Tá gastando dinheiro com florzinha, bolachinha e besteiras?
Decepcionado e triste pelo constante desânimo da esposa e pela nítida demonstração de esquecimento da data por parte dela, ele responde: – Não meu bem, hoje completamos uma década de casados e venho guardando há três meses um dinheirinho para lhe surpreender com este café, gostaria de lhe oferecer mais para externar meu amor… Mas isso é o que eu pude fazer… Desculpe por lhe importunar com meus sentimentos…”
“- Mamãe, mamãe, mamãe.
- Fala muleque! – esbraveja Eliza.
- Mamãe, eu fiz na escolinha, é para você! Diz Juninho feliz da vida com o primeiro cartão de dia das mães feita por ele mesmo.
O cartão tinha o formato de um coração com braços grandes, com os dizeres na capa: Mamãe…, e dentro ‘Te amo um tantão assim’!
- Tá bom muleque, vai brincar e me deixa descansar.”
Ainda seguiram outras cenas como estas e Sr. Sete Caminhos tirou Eliza do “transe”, que imediatamente tomada por vergonha chorou.
- Pois então minha filha. Acredita que sua vida ainda não está a contento por ação mágica? A vida vai mal ou você que não se permite olhar para a mesma?
Acaso pensa que haverá amor sem cultivo? Pensa que haverá conquistas sem luta, derrota e aprendizado? Acreditas mesmo que pode viver em paz sem gratidão?
Você tem o marido que escolheu, os filhos que pretendeu, a casa que idealizou e a rotina que pediu. Onde sua vida vai mal? Que tanta insatisfação é essa? Por que é tão difícil contentar-se com o que se tem?
É pertinente que almeje sempre mais, mas não sem antes ser justa com o que se tem, com o que escolheu, pediu e optou.
Retribua o carinho do seu marido que só não lhe abandonou por tê-la como uma boa lembrança e querer a todo custo retomar o que você deixou num passado sem motivo. Seus filhos só precisam da sua atenção e legítimo carinho.
Falta-lhe emoção? É disso que reclama? Mas o que tem feito para alterar a rotina?
Quer mais conquistas materiais? Do que você precisa? O que tem feito para atingir seus objetivos?
Tem falta de um passado jovial? Entenda que tudo passa, o tempo passa e você passa pelo tempo. Lembranças são o que são, memórias para que você não se esqueça do é, foi e o que não quer ser ou voltar a ser.
Seja sincera, a vida lhe foi muito boa e você, por ser movida por uma ingratidão constante, por uma necessidade de ser mais do que faz por ser e não mover um grão de areia para que sua realidade seja ao menos diferente, diz ainda ter a “certeza” que é algo de inveja e magia?
Desfaça você mesma a magia da ilusão que criou a si mesma. Saia deste quadro de lamentos gratuitos e olhe para o que tem, antes de almejar o que poderá ter e ser.
Após estas duras e verdadeiras palavras, Eliza no choro compulsivo de vergonha não conseguia falar, talvez nem pensar.
- Agora você voltará ao corpo, lembrando de tudo o que ocorreu aqui e estará de volta à sua realidade, seja melhor consigo e com os seus.
E Sr. Ogum Sete Caminhos recostou a ponta de sua espada na cabeça de Eliza, novamente um clarão tomou conta da encruzilhada e Eliza acordou com seu marido desesperado lhe chamando: – Meu bem, acorda, acorda, Eliza, meu amor, por favor!
Ao abrir os olhos, ele sorriu amorosamente, Eliza mais uma vez foi tomada por uma vergonha incalculável, abraçou Roberto e chorou…
Esta foi mais uma ação daqueles ordenadores espíritos que trabalham sob os ditames de Pai Ogum. Que quando evocados não estão à disposição do evocador, mas tão somente da Lei, da Verdade e do Caminho reto.
Esta história de Eliza retrata um pouco dos milhares de casos constantes de pessoas que abarcam aos terreiros de Umbanda, e vestidos com a “máscara do desafortunado” lamentam sobre tudo, e que não são capazes de reconhecer o que têm e o que podem vir a ter por serem capazes de ter.
Muitos destroem seus casamentos por falta de zelo, respeito e maleabilidade. Outros minam suas relações familiares pelo insistente relapso de retribuição e gratidão. Outros pedem empregos e os desprezam por não serem gratos ao que têm antes de se preparar para algo a mais.
Assim, num fluxo contínuo e constante de uma espécie de torpor comportamental, os filhos desta matéria, deste plano físico, perpetuam uma cultura de crise existencial em prol de uma necessidade mal expressa e incompreendida…
Desejo que Pai Ogum, aquele que reflete a Lei do Criador, a Ordem no Universo, através de seus milhares de falangeiros e intermediários, esteja ao lado destes filhos na matéria, e que possam ser corrigidos e reposicionados no caminho reto da evolução.
Ogum abençoe, Ogum proteja, Ogum encaminhe!

Relato de Exu Marabô

Relato de um filho sobre a doutrina proferida por Exu Marabô:

"Confesso que estava ansioso e aflito, pois trabalho com o amigo Marabô há vários anos e não sabia o que este iria falar, afinal em nossas aulas após o conteúdo didático permitimos que se manifestem nossos instrutores espirituais para eventuais explicações de apoio. 
  Como obrigação de todo bom Umbandista, dirigi-me ao Conga para elevar os pensamentos ao Pai Maior e receber a devida autorização de apoio deste nosso grande amigo. 
  Marabô então assumiu o controle. Pegou seu chapéu, sua vestimenta, tábua de pontos, pembas, olhou para a imagem de Cristo e todo o altar, solicitou as bênçãos de Olorum, saudou todos os presentes, sentou-se em um toco e com muita paciência colocou uma tábua em seu colo e com uma pemba branca desenhou um círculo. 
  Todos os presentes ficaram observando o que acontecia em profundo silencio. Marabô então fez a seguinte indagação: "Vocês já viram Deus Pai? Sabem quem ele é?" E a resposta que obteve para este questionamento foi um pouco incompleta e vaga, do tipo: "Não vi Deus, acho que sei quem ele é, algumas vezes o sinto presente". Diante das respostas encontradas ele começou a discorrer o seguinte: "Jamais vi Deus Pai, todavia trago-o junto de meu ser todos os momentos de minha existência, tenho verdadeira fé e crença em sua plenitude. Este círculo desenhado representa “ele”, não tem início, nem fim, é um todo universal, se vivencia tanto interna como externamente. Não precisamos ver Deus, a fé maior está nos que acreditam sem precisar ver ou tocar. É preciso sentir e acreditar com o coração e ter sempre a certeza de que somos frutos dele". 
  Suas palavras eram simples e demonstravam profunda sabedoria. Com sua costumeira calma desenhou então, ainda com a pemba branca, uma estrela de seis pontas dentro do círculo e dissertou o seguinte: "Como a estrela de seis pontas é desenhada com um triangulo voltado para cima e outro para baixo, pode-se observar que em todas as extremidades forma-se um novo e pequeno triangulo"
  Foi então que, dentro destes pequenos triângulos “ele” começou a traçar novos desenhos. No pequeno triangulo superior da estrela de seis pontas, ainda com a pemba branca, desenhou uma cruz símbolo máximo de Oxalá). Em seguida com uma pemba azul, no pequeno triangulo formado do lado direito desenhou ondas, no triangulo esquerdo superior, um coração, na pequena estrela formada na parte inferior direita desenhou  com uma pemba verde uma flecha, na extremidade inferior esquerda com uma pemba vermelha fez o símbolo de uma espada e na extremidade inferior, com uma pemba marrom, desenhou um machado. O espaço interno da estrela maior, “ele” desenhou, com uma pemba branca, uma escadaria com uma cruz ao alto. 

  Quando terminou esta etapa de desenhos, virou a tábua para todos e discorreu o seguinte: "No ápice, onde coloquei o desenho da cruz, encontraremos o Reino de Oxalá ou da Fé, onde está assentado o primeiro filho e Maior Orixá gerado por Deus. Este reino tem como escopo maior difundir a existência de um único Deus gerador e Pai que tudo governa, ama e irradia. Só o Grande Orixá Oxalá é que consegue reger com maestria este assunto e reino. No vértice direito superior coloquei a segunda criação de Olorum, a fonte geradora e grande mãe, cujo Orixá Maior é Yemajá, representada por muitos pelas Mães Marias (Nossa Senhora). É a mãe de todos e fonte necessária para dar continuidade nas Criações de Deus Pai. Na outra extremidade superior esquerda, desenhei um coração que representa o Orixá Maior Oxum encarregado de difundir o amor maior do Pai aos seus filhos. Necessitando que toda a sua futura criação compreendesse seus desígnios Deus então criou o Reino do Conhecimento através do Orixá Maior Oxóssi, representado na extremidade inferior direita da estrela. Zambi tinha então a Fé, a geração, o amor, o conhecimento, mas faltava ainda as Leis Maiores, ordenamento para toda criação. Fez-se então o orixá da Lei Ogum, encarregado de fazer cumprir suas Leis Divinas. Todavia, faltava ainda criar a Justiça para que a fé, geração, amor, conhecimento e leis tivessem todo embasamento justo e correto no transcorrer de toda a formação. Este reino fica representado neste último vértice da estrela e tem como Orixá Maior Xangô, Orixá Maior da Justiça. Então, no centro da estrela “ele” desenhou uma escadaria com uma cruz no alto e disse que ali se encontrava a sétima grande criação – Obaluaiê, pai da evolução criacionista, grande Orixá divino encarregado desta missão, pois a verdadeira evolução só se dá quando estiver impregnada de toda energia maior de Deus e dos Grandes Orixás Maiores".
  Todos os presentes se encontravam atentos às explicações e curiosos com o que era  por Marabô desenhado e falado. Retornou a tábua em seu colo e nos espaços vazios que ficaram, entre o círculo e a estrela, desenhou tridentes, total de seis, explicando que ali estava Exú, criação divina e Orixá Maior, irmão dos demais, criado para formar uma portentosa força de defesa e auxílio. Explicou-nos ainda, que para cada um desses Orixás Maiores existe um seu par vibratório de sustentação, inclusive na linha dos Guardiões. Também explicou que existem muitos outros orixás que vieram a surgir durante as infinitas criações do universo de Deus e discorreu que a criação continuou de dentro para fora, reafirmando assim a infinitude do Pai Maior que ainda é muito pouco conhecido e/ou estudados pelos homens de hoje. Disse-nos que existem mais de 600 outros orixás, encarregados de auxiliar nas infinitas criações divinas e que é nosso dever saber os principais sete com seus pares vibratórios.
  Foram momentos de muita reflexão para todos e as explicações eram compostas de uma simplicidade impressionante. Marabô então afirmou que Orixá é único em seu reino, não incorporam, não têm formas definidas como a dos homens: "As 'entidades' que trabalham nos centros, igrejas, templos ou qualquer outro meio religiosos são ex-encarnados que se voltam a servir determinada linha por afinidade e amor ao Pai Maior. Novamente afirmou com toda segurança que não existe incorporação de Orixá. É necessário acabar com este falso mito e começar a estudar e compreender o “todo” com mais propriedade. Admite-se que alguns professem conhecimentos diferentes, mas estes precisam aprender no seu tempo certo, pois existem homens vivendo o agora com visões do ontem, esquecem que já estamos vivendo o hoje com vistas para o amanhã. Criam uma parafernália de falsas idéias e ilusões. Sabemos que isso também faz parte da evolução, então, ajudamos no que podemos e muito ponderamos em função da vaidade dos homens.  
  Para aqueles que realmente buscam a verdade estudam, se dedicam e se aprimoram, falamos com alegria e emoção e incentivamos cada vez mais o progresso".
  É preciso refletir muito sobre o que estava sendo dito, pois muitos dogmas acabam sendo derrubados e abrem-se novos campos de pesquisa e muito estudo.
  Nosso querido amigo Marabô resolveu então falar de suas peregrinações e discorreu o seguinte: "Não consigo ainda precisar o início de minha vida, pois assim como muitos de vocês, passei por fases evolutivas onde a consciência ainda era nebulosa,  mas posso lhes dizer que não haviam continentes divididos, tudo era quase que um único e imenso universo de terra ou água neste planeta. A divisão das raças humana somente aconteceu depois de muitos milhares de anos. No início, os homens que começavam a se conhecerem e a ter noção do seu ser, tinham uma só cor, muito pouco ou quase nada ainda conheciam e pouco se comunicavam. Somente quando mudanças bruscas aconteceram, é que houve diversas fusões de terras onde continentes se separaram pela formação dos oceanos e mudanças profundas surgiram. Novas adaptações ocorreram e os homens ampliaram seu processo de conscientização coletiva com a troca de informações e ações diferenciadas para a sobrevivência. Em virtude das diferenças de temperatura, de formações vegetativas e todo um complexo sistema é que mudanças nas colorações das peles, olhos, alturas se fizeram presentes nos continentes. Formaram-se grupos de pretos, brancos, amarelos e vermelhos vivendo em um mesmo planeta e implantando diferentes culturas nos seus diferentes solos. Este início de formação do que é hoje, eu me lembro e posso falar com propriedade e certamente a ciência encontrará todas as respostas. Nessa época de mudanças e adaptações éramos todos voltados à conquista e descoberta e quando sistemas diferentes se defrontavam muita coisa “errada” era feita, pois dominava o ser conquistador do homem e assim eu também fui. Vamos passar um pouco mais adiante na história, quando o enviado direto de Deus, representante de Oxalá se fez presente neste planeta terra. Neste período “eu” era da guarda Romana. Afirmo para vocês, que não somente vi nosso senhor Jesus Cristo como também nada fiz por ajudá-lo e não vou dar desculpas de que estava envolto nas Leis do Império, afinal de contas, sempre tivemos a liberdade de escolha intrínseca em nosso ser"
  Neste momento era nítidos a voz embaraçada e um sentimento de quase choro por eclodir de nosso narrador. 
  "Não quero chorar, mas tenho ciência de que naquela época, cego pelo desejo das paixões e conquistas, sequer ajudei o nazareno a carregar sua cruz, presenciei as chibatadas que foram desferidas contra sua pele e todo tipo de violência executada   na sua pessoa. Cheguei até mesmo a dar muita risada com os companheiros da época pelo que acontecia com o cordeiro. Não sei explicar o que me aconteceu após sua morte na cruz, mas uma espécie de tristeza começou a inundar meu ser e acabei envelhecendo neste reino de desordens. Lembro-me que certo dia um velho senhor veio ao meu encontro e chamou-me atenção sobre mudanças próximas, que deveria me preparar. Acabei falecendo pouco depois do encontro com este sábio senhor e quando me deparei do outro “lado” não senti nenhuma dor, me encontrei sozinho, perdido, perambulando com meus pensamentos. Vez ou outra encontrava uma alma em sentido contrário ao meu caminhar com a mesma fisionomia e completamente perdido também. Não sei quanto tempo assim eu caminhei. Não seis se foram anos ou décadas. Só sei que sentia a necessidade interna de mudar meu ser, encontrar mais sentido nas coisas e em tudo. Quando assim comecei a firmar meus passos, um senhor veio ao meu encontro, acho que era o mesmo que rapidamente havia conversado comigo outrora, pois hoje o vejo como o meu grande amigo e mestre, Pai Velho de Aruanda. Este me convocou para um novo desafio e tão logo assim falou me peguei reencarnado no continente Africano, em uma tribo de guerreiros e junto com um pajé que tudo me ensinava. Ele me mostrou um Deus simples e justo, me mostrou formas diferentes de reverenciá-lo, ensinou-me sobre oferendas simples e importantes para agradecer a comida, a caça, à família e toda e qualquer conquista realizada. Tratei nesta vida de aprender tudo e com a morte de meu instrutor, o velho pajé, acabei ficando em seu lugar, que era de muito destaque e poder na tribo. Confesso que ao assumir este lugar de honra, uma onda de poder me subiu à cabeça e comecei a cometer erros, pois me senti poderoso e queria dominar outras tribos com guerras e desejos de vingança. Fiz guerras, matei e fui morto. Quando me deparei novamente no outro lado, sem dor, sem medo e sozinho, ouvi a velha voz sábia a sorrir e pude perceber a presença do meu velho amigo que me cobrou os erros cometidos e me incentivou a recomeçar pelo processo de reencarnação. Nesta conversa, muita vergonha inundou meu ser, um sentimento de culpa em virtude de relembrar da minha proposta de mudanças afundada na sede do poder. Talvez, por serem verdadeiros meus sentimentos pós-morte, fui imediatamente reconduzido para o  encarne, só que desta vez, para uma terra fria, gelada, lá pelos lados da Finlândia, em uma tribo habitante daquele  lugar. Era um garoto alegre e extrovertido, incrivelmente habilidoso com as questões espirituais e de Deus. Chamavam-Me de feiticeiro, bruxo, profeta, pastor, e apelidaram-me ou nominaram-me Marabô. Conhecia muito sobre a natureza, como trabalhar com ela e para ela. Tudo o que acontecia de errado era convocado para concertar ou acalmar. Surgiram lendas sobre minha pessoa e vida desta época e até mesmo com os animais eu tinha certo poder de acalmá-los. É meus amigos muitas histórias inventaram graças às minhas habilidades e meu grande tamanho físico". 
  Muitas gargalhadas Marabô deu nesse momento.
  "Quando passei para o outro lado, fui convidado por seres de muita luz e sabedoria para trabalhar com o Grande e Único Orixá Exú. Conheci outros obreiros como o Exú Maioral e aprendi algumas coisas importantes. Fui abençoado por sentir meu ser inundado pela presença do grande Orixá Exú e principalmente pela intensidade a me dominar do único e verdadeiro Deus Pai. Sou tranqüilo e apto para realizar os serviços necessários, conheço a verdadeira irmandade existente entre todos os Orixás e seus seguidores e firmo-me como um obreiro do Orixá Maior Exú. Amo muito este lado, tenho muitos amigos e seguidores e formo infinitas alianças para lutar pelo bem maior do Pai Maior. Nesta vida espiritual tenho muitos irmãos e amigos e sou muito unido também na linha dos verdadeiros ciganos da Umbanda. Tenho meu exército de seguidores e luto para que as divinas Leis do Pai Maior sejam executadas. Não é uma vida fácil, mas onde posso ajudar vou com meu exército ao socorro e estou sempre aprendendo. Agora vou lhes contar outra verdade de minha vida, algo para que possam ter conhecimento e entendimentos dos Exus Guardiões da Umbanda: - Muitos anos se passaram e tive que voltar a reencarnar lá pelos anos de 1.700 DC. Reencarnei a convite de “Zambi” neste abençoado solo brasileiro, em tribo indígena do alto Xingu, fui um grande sacerdote e amante destas benditas terras, não vim para corrigir falhas, mas porque, quando trabalhamos muito nas baixas esferas, nosso corpo  espiritual sofre e se desgasta muito e devemos nos recompor. É certo que temos nossas fontes de recarga no mundo espiritual, temos o mar, a mata, a casa de nossos amigos trabalhadores dos Orixás e nossos próprios locais ou como chamamos: “reinos”. Mas a reencarnação é salutar e nos rejuvenesce muito rápido e mais forte, pois energia vital também é elixir para uma alma de trabalho incansável. Saibam que muitos exus que hoje se encontram trabalhando nos terreiros e searas do pai necessitam reencarnar. O problema é que muitos acham que vão perder sua sabedoria, suas descobertas e avanços, o que é mentira pura, pois ninguém perde o que de melhor conquista e isso eu posso falar sem medo, pois quando voltei para a espiritualidade, não só retomei todo meu trabalho e conhecimento, como me renovei e me tornei muito mais forte e pronto para trabalhar por mais uns cinco mil anos, sem medo de errar e ajudando sempre meus outros irmãos em suas andanças, tentando sempre a renovação dos espíritos decaídos. Constantes lutas contra o mal são travadas e os que não conseguem se reajustar são transferidos para outros mundos, outras civilizações para que tenham a chance de recomeçar seu ciclos evolutivos, por serem também filhos do Pai Maior. Este sou eu, assim como Exú Sete Encruzilhada, Tranca Rua das Almas, Tiriri, Veludo, Meia Noite e tantos outros são o que são. Muitos usam nomes em concordância com a forma de trabalho e só são Guardiões quando trabalham em concordância com as verdadeiras Leis de Deus. Exú verdadeiro não tem medo, não é covarde e tudo o que falei, é minha história, ou um pouco dela. Muitos centros nem deveriam levantar a bandeira dos exus. Zélio de Morais, há mais de cem anos passados já dizia pela sua forma de entendimento, que era perigoso. E verificamos que ainda hoje existem alguns centros que na verdade trabalham ou operam com os “Kiumbas”, espíritos desvirtuados e verdadeiros marginais, falsificadores, monstros do espaço que imitam trejeitos dos Guardiões para ludibriarem os praticantes e toda a sua assistência conseguindo operar falsos milagres. O verdadeiro Exú (Guardião) de Umbanda não pede nada em troca, faz tudo por amor ao Pai Maior. Se usar bebida e fumo é para combater o mal. Também é um grande obreiro dos Orixás que zela pela natureza. Quando raramente necessita de sangue para algum trabalho mais pesado, não  mata nenhum animal. Fura o dedo do aparelho com uma agulha esterilizada e retira gotas do que precisa, sendo este um dos últimos recursos, pois a natureza quase tudo provê. Por isso, falo alto e em bom tom que não concordo com o que muitos fazem em outros locais, apenas suporto o que muito ainda vivencio devido ao seu grau evolutivo e infelizmente sei que muitos vão aprender pela dor de suas consciências. Não me preocupo com riqueza e poder e farei tudo por aqueles que fazem por merecer. Jamais deixei de trabalhar a favor de quem me pede com amor ao Pai Maior e sempre estarei ao lado dos que vestem a bandeira de Deus Pai!".
  Nosso amigo respondeu várias questões levantadas com muita sabedoria e ciente de sua investidura, teve a presença de seu amigo Tranca Rua a cuidar para que durante o diálogo nada viesse a interferir e ao final da palestra fizeram a confraternização com todos os seus grandes amigos Guardiões da Umbanda." 

Claudair de Oxossi

domingo, 13 de julho de 2014

Uma história de Preto velho...



Um certo dia, ele atendeu de uma senhora que lhe veio consultar sobre um tumor nos seios, diagnosticado por uma mamografia.

Passes daqui, trabalhos dali, enfim, uma consulta normal…vela, erva, água…
Disse o ...


preto:
- É mizim fia… Tá feito…mas num deixa de procurá o Homi de branco, dispois vem contá pro nego…nego vai ficá no toco esperando zunce vortá…
E saiu a consulente.
Numa próxima gira, estava lá o preto no toco e chegou a sua consulente, já na segunda parte do trabalho.

- Podi entrá mi zim fia, tava le esperano….
- É meu Velho, fui no médico sim…ele disse que o tumor sumiu, vai ver foi engano, o que a mamografia mostrou foi uma sombra de um queloide, que eu já tinha de cirurgia anterior. mas vim lhe agradecer, pois sei que o Senhor me curou..

Diga, meu Pai, o que o Senhor quer de presente, quero lhe agradecer…

Em nossa casa, as entidades as vezes ganham presentes, charutos, bebidas, mas não que peçam, porque as pessoas trazem em agradecimento mesmo, como deve ser em todo lugar.

Mas naquele dia o preto pediu…

- Me traga um bolo de chocolate, mi zi fia, suncê pode faze isso…?? Mais tem qui ser na proxima gira…eu num vô tá aqui, mas fala co caboclo chefe que ele manda mi chamá….

Todos estranharam, e eu mais ainda, passei a semana pensando naquele pedido, eu que amo bolo de chocolate, pensava comigo, Meu Velho…porque um bolo, Meu Pai…Até os filhos da casa acharam estranho e houve uma brincadeira ou outra…do tipo achando que iam comer o bolo….Alguém arriscou dizer que era a comemoração pela cura da mulher… Enfim…esperei ansiosa…Afinal…confio neles.

Em verdade torci para a mulher nem aparecer com aquele bolo…

Mas ela apareceu, e sentou na primeira fila, como tal bolo, todo confeitado de confetes coloridos.

Chegou o preto, com autorização do chefe do terreiro, Trouxe meu bolo, mi zim fia…

- Trouxe meu velho…

Então o preto levantou e disse que na assistencia tinha uma menina, de cor morena, que estava fazendo aniversario, 14 anos, e chamou-a.

Disse à menina:

- Mi zim fia, esse é presente que sunce pediu ao seu anjo da guarda, ele não pode vir, mandou o nego te entregar…


A criança marejou os olhos e saiu com o bolo na mão, sentar ao lado da mãe, que chorava muito na assitencia. Em 14 anos, nunca havia ganhado um bolo de chocolate….Nunca mais voltou, nunca mais vimos. E nunca esquecemos esta história.

(Autor Desconhecido)

Fonte: http://centropaijoaodeangola.net/mensagens_de_preto-velhos_112.html
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quarta-feira, 9 de julho de 2014

O Guardião das matas

Escrito sob inspiração mediúnica por Pedro rangel Telles de Sá.


O Guardião das matas
Certa vez, em um terreiro de umbanda, uma entidade amiga pediu que eu fosse fazer uma obrigação nas matas. Até aí tudo normal se este espírito amigo não tivesse me solicitado que antes de realizar a referida obrigação eu acendesse um charuto, abrisse uma marafa e oferecesse ao exu das matas pedindo licença para utilizar aquele ponto de forças da natureza e proteção e amparo para aquela obrigação que eu iria realizar.
Não entendi o porquê desta solicitação em relação ao exu e fiquei protelando por três dias a realização desta obrigação.
Quando foi a noite do terceiro dia, ao adormecer, meu duplo foi irresistivelmente atraído para uma região de matas que se encontra perto de minha casa. Vale a pena ressaltar que eu não tenho muita afinidade com a mata principalmente por ter um medo terrível de cobras. Mas lá estava eu de frente para a mata nas altas horas da noite. Interessante que o “sonho” era meu e o espírito, é óbvio, também, mas eu não tinha o mínimo controle sobre as ocorrências que aconteciam nele.
De repente, fui irresistivelmente atraído por mata adentro e fechei os olhos morrendo de medo. Por quanto tempo esta atração durou eu sinceramente não sei, só sei que quando eu abri meus olhos me vi de frente com um ser que deveria medir certamente mais que três metros de altura, seu corpo era mais musculoso que o de qualquer super-herói que eu tenha conhecido na ficção terrestre, sua face era magneticamente sedutora e impreterivelmente dura, não sei dizer por que mas aquele ser não me passava nenhum sentimento de medo mas sim um tremendo respeito, tanto que inconscientemente, quando dei por mim, estava em posição de reverência e ajoelhado a seus pés.
Apesar do respeito eu não pude sopitar a minha curiosidade e perguntei:
— Ó magnânimo ser, por caridade vós poderíeis dizer à minha pessoa quem sóis e o que eu faço aqui?
— AHahahahahahahahahahahahhahahahaha!!!!!!!!!
Dele eu escutei uma gargalhada estrondosa e devo afirmar que seu tom de voz era cavernoso e gutural.
— Não precisa usar essas palavras difíceis comigo não camarada, no dia-a-dia eu sei que várias palavras de seu vocabulário chegam ser até mesmo chulas, não é verdade?
— Sim, respondi mas é que eu só queria demonstrar um pouco de respeito para com o senhor.
— Senhor, eu? Ahahahahahahahahahahahahahahahahahaha !!!!!!!!!!!!!!
E outra vez deu mais uma gargalhada gutural para depois responder:
— Camarada, tenho que te falar duas coisas; primeiramente é que eu não sou senhor de nada e ainda estou muito longe de merecer do criador a oportunidade de receber algo de que eu possa me assenhorar para receber de você este tratamento; segundo, se você de fato quer demonstrar algum respeito por mim então seja quem você realmente é, seja verdadeiro: converse comigo da mesma forma como você fala com os outros no dia-a-dia, aí sim você estará me respeitando. Não tente jamais aparentar para mim ser o que não é por que pode ter certeza que eu conheço o mais íntimo dos recônditos da alma humana e sei que a beleza desta reside em se assumir imperfeita como é e perfectível como deve ser.
— Tudo bem companheiro,posso te chamar desta forma, não é?
— Sim !!!
— Pois então companheiro, como eu estava dizendo, será que você poderia me dizer quem é e o que eu faço aqui?
— Meu camarada,vamos por partes. Suponha que você tivesse vários tesouros, cada um em uma localidade diferente, e me responda: você teria condições de estar presente simultaneamente em cada uma destas localidades para proteger os seus tesouros de malfeitores?
— Não.
— Mas o seu tesouro teria que ser protegido de qualquer forma, não é?
— Sim.
— Então responda como você resolveria este problema?
— Bom, a resposta nem é tão difícil assim e eu digo que resolveria o problema colocando seguranças em cada um dos lugares onde eu tivesse um tesouro.
— Muito bem camarada se você que é um ser humano, membro de uma raça ainda tão imperfeita e materialista que é a raça humana, pôde encontrar uma resposta satisfatória a esta questão imagine então que solução o Divino Criador obteve para que a sua divina obra, que é a natureza, não fosse maculada em seus mais diversos e específicos reinos que são: vegetal, mineral, aquático, telúrico, ígneo, eólico e cristalino!
— Espere aí, então você está querendo dizer...
— .....sim camarada, com isso eu quero dizer que pelo fato da criação divina ser tão incomensuravelmente extensa e infinitamente contínua Ele achou por melhor colocar em cada um de seus pontos de forças da natureza um guardião que pudesse se ocupar da proteção de seus mistérios.
— Meu Deus, isto é incrível!
— Sim, camarada mas isto ainda não é tudo, tenho ainda mais uma questão a propor pra você, me diga o que aconteceria se qualquer pessoa quisesse entrar em qualquer uma de suas propriedades onde se encontra seu tesouro?
— Eles seriam impedidos de entrar pela guarda de seguranças.
— Exatamente. E qual seria a única forma legal deles adentrarem sua propriedade?
— Bem, a única forma lícita de qualquer pessoa entrar em uma de minhas propriedades seria se esta possuísse um crachá de identificação, porque a apresentação deste crachá a qualquer um dos seguranças tornaria explicitamente claro que a referida pessoa tem autorização para penetrar em minha propriedade.
— Perfeitamente, agora lhe proponho a última questão camarada: sabendo que cada ponto de forças da natureza tem um guardião, o que qualquer pessoa deveria realizar antes de fazer qualquer oferenda religiosa ou magística num ponto de forças da natureza?
— Bem, pela forma como você está explicando qualquer pessoa antes de realizar qualquer oferenda deveria mostrar tipo um “crachá ” para o guardião do ponto de força da natureza e, me atrevi dizer, sabendo que todo exu é um guardião poderia até adivinhar que este “crachá” , no caso, poderia até mesmo tomar forma de uma marafa aberta e um charuto aceso, eu estou correto?
— Sim, e agora você chegou aonde eu queria, ou seja, você sabe por que foi trazido até aqui, não sabe???
— É, agora eu sei.
— E qual foi este motivo?
— O fato de uma entidade há três dias atrás ter pedido para eu fazer uma obrigação nas matas e eu estar adiando esta tarefa até agora.
— Olha camarada, o que você falou, você sabe que é uma meia-verdade, você não gostaria de completá-la?
Acho que é desnecessário dizer o quanto envergonhado eu estava pelo fato de saber que ele, por ser um grande conhecedor da alma humana, sabia da outra metade da minha história.
— Bom companheiro exu, a outra metade da minha historia, como eu sei que você bem sabe, reside no fato de eu ter adiado esta obrigação pelo fato de que a entidade amiga que a solicitou ter determinado que, antes que eu assim procedesse, eu oferecesse uma marafa e um charuto para o exu das matas pedindo licença para usar o espaço sagrado da natureza e o amparo e a proteção para a obrigação que seria realizada a seguir.
— E você até agora ainda não realizou a obrigação por não ter entendido o porquê de a entidade amiga ter lhe solicitado que fizesse antes a oferenda para o guardião das matas se isto antes nunca havia sido feito certo?
— Sim.
— E você não consegue realizar nada se não souber o porquê, certo?
— Sim.
É importante destacar que eu respondi esta última pergunta de boca aberta e admirado de como um exu é, de fato, um grande conhecedor da alma humana. Mesmo assim, ainda, me atrevi a fazer uma pergunta.
— Mas e aquelas pessoas que fazem suas obrigações nos pontos de força da natureza sem antes fazer uma oferta para o guardião deste ponto de força?
— Ótima questão camarada e eu lhe digo que tudo é questão de nível de consciência.
— Como assim?
— Ora camarada, consciência entende? As pessoas que desconhecem a importância de se oferendar aos guardiões dos pontos de forças da natureza antes de realizarem uma obrigação, ou seja, as que desta importância não têm consciência fazem suas obrigações e a espiritualidade responde aos seus anseios (de acordo com o seus merecimentos) da mesma forma que responde a uma pessoa que fez a oferenda para o guardião. Agora a partir do momento que a pessoa entende a importância desta oferenda e deixa de realizá-la as conseqüências disto eu respondo nem por palavras minhas mas me utilizo d’aquelas pertencentes àquele que está a direita do Criador “..muito será cobrado d’aquele a quem muito for dado.”
— Mas então quer dizer que você é o guardião das matas?
— Errado camarada. Eu sou um guardião das matas e sirvo ao meu senhor que é O guardião das matas, ou como dizem vocês umbandistas, O guardião de Oxóssi. E lhe digo mais companheiro, jamais se sinta importante por estar diante de um guardião das matas,sinta-se,antes,responsável.Entenda que a vitalização nos campos do conhecimento é um dos atributos dos quais eu, no aspecto positivo, procuro honrar em meu mistério, ou seja, auxiliar a retirar das trevas da ignorância àqueles que dela desejam sair.
Já no aspecto negativo eu também, e sempre, sigo as atribuições a mim fornecidas pelo Criador e procuro punir àqueles que se utilizam mal em qualquer campo na área do conhecimento, seja paralisando-os ou esgotando-os em seus próprios negativismos.
Agora acorde camarada, meu recado já foi dado e está na minha hora, porém, nunca esqueça de se lembrar de jamais se sentir importante pelos conhecimentos que lhe foram passados esta noite, antes, sinta-se responsável. Responsável por conhecer a importância destes conhecimentos. Responsável por sua própria evolução.Responsável por passar este conhecimento adiante.Responsável porque “muito será tirado d’aquele a quem muito for dado”.
Acordei em minha cama pensando em como a vida, por vezes, é engraçada: fui me deitar relutando em fazer a obrigação nas matas por não querer oferendar, antes, a exu por que não haviam me informado a importância do gesto: eu queria alguma explicação antes para depois eu fazer a obrigação.
Mas acordei conhecendo a explicação e me sentindo responsável até demais por esta informação, desejando até mesmo nunca dela ter tido conhecimento; daí então comecei a sentir um forte cheiro de marafa em meu quarto e olhei para o relógio de parede: era meia-noite em ponto.
É, pensei, a responsabilidade era grande mas eu havia entendido o recado e iria, assim que amanhecesse, fazer minha obrigação nas matas realizando, antes, uma oferenda ao guardião deste ponto de forças; afinal depois do esclarecimento do sonho fazer esta oferenda era minha obrigação e eu iria realiza-la com todo o respeito e responsabilidade.

Ass: Um amigo espiritual.